Por Cristina Orpheo – Diretora Executiva do Fundo Casa Socioambiental
Vivemos em um planeta conectado. Aquilo que acontece em nossas comunidades, seja na cidade, no campo ou floresta, pode refletir em todos os territórios e afetar a vida dos seres que aqui habitam.
É direito de todos participarem ativamente das tomadas de decisão que envolvem os seus territórios. Também é direito de todos buscarem meios para se viver bem, de uma forma que respeite o modo tradicional de vida, assim como os ecossistemas ao redor, sempre exercendo a defesa de seus direitos. Na maior parte das vezes, isso não é assim tão simples, mas é o caminho para a construção de uma sociedade justa e de paz. Isso é democracia! Uma sociedade civil fortalecida, atenta e participativa é sinal de uma democracia consolidada. Vivemos no Brasil uma jovem democracia e, portanto, vulnerável em diversos aspectos.
Em 2019, o Fundo Casa, com 1.706 iniciativas apoiadas e R$ 25.243.860,32 (US$ 9.021.755,12), contratou a especialista em avaliação Graciela Hopstein para realizar uma ampla avaliação na sua área Programática de Apoio a Projetos, e assim, compreender melhor os resultados obtidos ao longo dessa longa história.
A avaliação resultou em uma profunda radiografia sobre:
-
o perfil dos grupos que apoiamos
-
a localização destes grupos
-
as principais atividades financiadas nesse período
-
os impactos gerados por estas iniciativas
O resultado foi incrível! Entre diversos apontamentos, o estudo mostrou que os temas mais apoiados foram:
-
desenvolvimento de capacidades – indicado por 88% dos grupos;
-
debates e articulações com diversos atores – indicado por 76% dos grupos;
-
articulação com políticas públicas – indicado por 63% dos grupos;
-
participação em processos de tomada de decisão – indicado por 56% dos grupos;
-
proteção/conservação do território – indicado por 54% dos grupos.
O estudo apontou uma forte e intrínseca conexão dos temas socioambientais com os direitos humanos: 70% dos grupos apoiados atuam no âmbito dos direitos humanos; 65% com questões de gênero; 60% com redução da pobreza e conservação da biodiversidade, e 55% com a conexão direta entre direitos humanos e conservação ambiental.
A avaliação reconheceu também alguns “patrimônios” que o Fundo Casa construiu ao longos dos 15 anos de atuação:
-
Forte atuação em rede – O trabalho desenvolvido pelo Fundo Casa está conectado com as redes que existem nos territórios e baseado em relações de confiança estabelecidas com os grupos locais e movimentos socioambientais. Isso proporciona um modelo horizontal nos relacionamentos e nos processos de doação.
-
Metodologia assertiva – Todo o processo de seleção, aprovação e monitoramento dos projetos conta com uma grande rede colaborativa nos territórios, o que potencializa de forma exponencial nossa capilaridade e alcance aos grupos mais distantes.
-
Foco em doações – O Fundo Casa chega a mais de 70% em doações diretas para grupos comunitários em alguns dos anos avaliados. Isso comprova nossa atuação a partir de uma metodologia que propicia custos operacionais bastante reduzidos, enquanto privilegia as atividades relacionadas com a sua missão de doador.
-
Fortalecimento de Capacidades – Ações de Fortalecimento de Capacidades desenvolvidas junto aos grupos são consideradas estratégicas e complementares aos apoios.
-
Protagonismo das comunidades – A atuação está baseada no reconhecimento das comunidades como um sujeito político, protagonista dos processos de transformação local.
-
Inovação e escuta – O apoio a temas pioneiros, e o instinto particular em reconhecer demandas e necessidades das comunidades, são outros grandes ativos do Fundo Casa, mencionados por diversos atores.
O Fundo Casa integra uma categoria de fundos e fundações comunitárias, também denominadas organizações doadoras (grantmakers), que apoiam diversas iniciativas nas áreas de justiça social, direitos humanos e cidadania. Por não estar preso ao convencional, esses fundos e fundações comunitárias podem ser fontes de inovação e ousadia. Por financiarem temas pioneiros e de grande visão de futuro, além de propiciar a discussão e o diálogo, viabilizam importantes inovações nas soluções sociais e na inspiração de políticas públicas altamente benéficas para grupos e comunidades.
Convidamos todos a conhecerem a publicação Nossa História em Números.
Boa leitura!
Artigo publicado originalmente em: https://casa.org.br/15-anos-fazendo-grantmaking-e-filantropia-comunitaria/