O ano de 2021 foi muito significativo para a Rede de Filantropia para a Justiça Social (RFJS) em termos de aprendizado coletivo junto aos Fundos integrantes e também de construção de estratégias programáticas, de parcerias e no campo da produção de conhecimento no sentido de promover a sua missão de fortalecer e ampliar o campo da filantropia comunitária e de justiça social.
A Rede deu grandes passos no desenvolvimento de estratégias coletivas de advocacy (incidência) para posicionar a agenda da filantropia comunitária e de justiça social no ecossistema filantrópico brasileiro.
Para a equipe da RFJS, o ano de 2021 foi marcado pelo crescimento da Rede, consolidação de novas parcerias e desenvolvimento de diferentes programas, o que aponta para uma atuação ainda mais potente em 2022.
“Em 2021, destaco o Programa Doar para Transformar e o envolvimento da Rede nessa Aliança. Essa inclusão foi algo absolutamente relevante, pois nos permitiu reforçar e dar mais corpo a muitas das agendas que já tínhamos e, principalmente, nos dar insumos para estruturarmos o programa de incidência. Essa linha de atuação já estava sendo desenvolvida, mas hoje está concebida e implementada de uma forma mais estruturada,” avalia Graciela Hopstein, coordenadora executiva da Rede.
“Ao mesmo tempo, a Rede vem ocupando um espaço importante de visibilidade no ecossistema filantrópico brasileiro, que nos permitiu abrir novas portas, com novos financiadores, fortalecer os relacionamentos que já tínhamos e renegociar todos os nossos orçamentos, inclusive no contexto da pandemia, o que possibilitou o remanejamento de recursos para o desenvolvimento de novas atividades. Os parceiros nacionais e internacionais foram absolutamente relevantes, inclusive para o reconhecimento da Rede como referência para pensar e contribuir com o campo da filantropia comunitária e da justiça social”, destaca Graciela.
A assessora de programas da Rede, Betina Sarue, destaca, assim como Graciela como o programa Doar para Transformar “Ajudou a somar e a dar mais corpo para as linhas de atuação da Rede, tanto no fortalecimento dos seus membros, por meio das Comunidades de Práticas, como também no fortalecimento da agenda de filantropia comunitária e de justiça social. Acho que esse tenha sido um grande salto de 2021.”
Betina destaca que Comunidades de Práticas possuem um duplo sentido de fortalecer tanto os próprios membros como a agenda de incidência, produzindo insumos e narrativas para dar visibilidade à potência da filantropia pautada pelas comunidades e pela justiça social. Nesse sentido, iniciativas importantes vão se consolidando a partir do Programa de Apoio Estratégico, fortalecendo ações e alianças entre os Fundos integrantes da Rede, como por exemplo a Aliança do Fundo Casa, Fundo Baobá e Fundo Brasil de Direitos Humanos.
Para Milena Peres, gerente de operações da Rede, “O ano de 2021 foi o início de uma consolidação da RFJS no campo da filantropia. O crescimento exponencial que a Rede teve nesse último triênio está nos colocando em outro patamar, com um potencial enorme de incidência na atuação dos próximos anos.”
Graciela destaca também a intensa produção de conhecimento ao longo do ano, com o lançamento do selo Doar para Transformar e as publicações e pesquisas desenvolvidas. O Programa de Apoio Estratégico, através do qual a Rede irá doar para os seus membros aproximadamente R$ 1 milhão para o fortalecimento do programa de incidência nos campos da justiça social, direitos humanos, desenvolvimento comunitário e proteção e segurança, e a estruturação da estratégia de comunicação da Rede são ações absolutamente relevantes.
Incidência e parceria junto ao ecossistema filantrópico para ampliação da cultura de grantmaking
Em 2021, a Rede deu início à reestruturação de sua área programática com a criação de um Programa de Incidência que visa fortalecer a agenda do grantmaking, da filantropia comunitária e de justiça social junto ao ecossistema filantrópico.
Essa atuação já é parte da estratégia da Rede, sendo tecida a partir da participação em fóruns, redes e espaços de articulação em nível nacional, regional e internacional. Isso proporciona visibilidade às ações desenvolvidas e também a construção de pautas e agendas relevantes para o setor da filantropia e da sociedade civil.
Ao longo do ano, a Rede acompanhou a iniciativa Emergência Covid, coordenada pelo GIFE, que promoveu encontros mensais, articulando reflexão e troca de conhecimento sobre iniciativas desenvolvidas por organizações no campo da filantropia e do investimento social privado no enfrentamento da pandemia.
Integrante do Grupo de Conhecimento coordenado pelo GIFE desde 2018 – que reúne organizações públicas e privadas, produtoras de pesquisa e conhecimento que subsidiam e fortalecem o campo da filantropia no Brasil. Nesse contexto, a RFJS produziu um estudo, publicado pelo GIFE, sobre O papel e o protagonismo da sociedade civil no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil. Em linhas gerais, a Rede vê fortalecida sua parceria com a instituição, sendo convidada a participar de diversas atividades promovida pela rede de investidores sociais. Dentre elas, a facilitação da oficina temática Investimento Social Independente, durante o 11º Congresso GIFE. Novas atividades estão em elaboração para a continuidade da parceria em 2022.
A relação da RFJS com a ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos) foi também fortalecida ao longo de 2021. No contexto do Festival da ABCR deste ano, a Rede organizou o painel Doar para Transformar: mobilizando recursos para a Justiça Socioambiental e de base comunitária.
Outras parcerias contribuem para visibilidade e reflexões junto ao campo da filantropia regional. A Rede integra e acompanha as atividades do grupo de trabalho LAC Affintiy Group WINGS, que debate temas da conjuntura que afetam o campo da filantropia na América Latina. Participam do grupo as principais redes e organizações filantrópicas da região. A Rede tem participado de várias atividades promovidas pela rede WINGS e integra a iniciativa WINGS ClimateTask Force.
Também em 2021, a RFJS participou de webinars promovidos pela GFCF e de encontros e outras atividades no contexto da Aliança do Programa Doar para Transformar, desenvolvido com apoio da Cooperação Holandesa. Dentre eles, o painel #ShiftThePower: whatpowerandhowfarhas it shifted?, organizado em parceria entre o Programa GfC e a Alliance Magazine.
Iniciado em 2021, o Programa Doar para Transformar – consórcio envolvendo oito países (Brasil, Burkina Faso, Etiópia, Gana, Palestina, Quênia, Palestina e Uganda) e 13 organizações – tem fortalecido ainda mais a atuação da Rede, e cria em si um espaço para troca de experiências em cooperação sul-sul, ao promover a filantropia comunitária e de justiça social como estratégia para alavancar o desenvolvimento liderado pelas comunidades, fortalecendo a reivindicação de direitos.
Fomentando a comunicação para incidência
Em 2021, a RFJS deu início ao desenvolvimento e implementação de uma estratégia de comunicação articulada com o Programa de Incidência.
As organizações membros participaram de encontros entre comunicadores, que dão corpo à Comunidade de Práticas (CoP) Comunicação e Narrativas. O objetivo dessa CoP é promover espaços de interação específicos sobre a comunicação para a filantropia comunitária e de justiça social, proporcionando troca de experiências e construção coletiva entre os comunicadores.
A CoP intenta trazer respostas aos desafios e inquietações apontados pelos comunicadores dos membros da RFJS, sistematizados na publicação Os Desafios na comunicação da filantropia comunitária e de justiça social, lançada em 2021, que reúne as reflexões de comunicadoras e comunicadores dos Fundos sobre o tema.
Para 2022, além do fortalecimento dessa CoP, a RFJS tem em seu radar a construção de parcerias, estratégias e produtos que não só contribuam para a incidência junto ao campo filantrópico, mas também para as experiências dos próprios Fundos. Os produtos pensados para a efetivação das ações de incidência serão desenvolvidos no âmbito desta CoP, de modo colaborativo.
O processo busca potencializar a construção de narrativas que demonstrem a transformação que a filantropia comunitária e de justiça social tem capacidade de incentivar a partir das potências e fortalezas dos territórios. E busca ao mesmo tempo contribuir para um processo de reflexão sobre a decolonização da filantropia.
Produção e disseminação de conhecimento e experiência
2021 foi também um ano de produção e disseminação de conhecimento pela Rede. Além da publicação citada acima, foi relançado o estudo Expandindo e fortalecendo a filantropia comunitária no Brasil (publicado originalmente em 2019). Ambas as publicações inauguraram o selo Doar para Transformar, que tem como objetivo criar um espaço de reflexão e debate, reunindo conhecimento de debate teórico, de fortalecimento de capacidades e compartilhamento de experiências.
O selo publicou também o Mapa Conceitual e Estratégico, elaborado com o objetivo de apoiar o processo participativo e colaborativo para o desenvolvimento de ações da Rede no âmbito do Programa Doar para Transformar, inclusive para a estruturação do Programa de Incidência.
A Rede tem publicado, em seu blog, contribuições de organizações e pessoas que atuam no campo social e da filantropia, ampliando e reverberando uma diversidade de vozes para tornar cada vez mais plural a esfera do conhecimento e da reflexão.
Os conteúdos são divulgados em newsletters mensais e em sua página no Facebook, que se consolida cada vez mais como um espaço que reflete a vitalidade e a pluralidade da atuação da filantropia comunitária no Brasil. O ano de 2022 será também voltado ao desenvolvimento de estratégias para ampliar ainda mais a visibilidade e o alcance dos conteúdos da Rede.
Rede completa dez anos em 2022
O ano de 2022 projeta avanços ainda maiores na agenda da filantropia comunitária e de justiça social. A RFJS completará dez anos desde a sua criação, no ano de 2012.
A data traz dois importantes marcos que impactarão significativamente a atuação da Rede: a sua institucionalização e um processo de reposicionamento de marca, que deverá trazer ainda mais potência e visibilidade ao trabalho.
Também estará em curso um mapeamento de fundos e organizações brasileiros que trabalham apoiando iniciativas da sociedade civil nos campos do desenvolvimento comunitário e de justiça social, buscando ampliar a Rede e potencializar ainda mais a troca de experiências.
“Para o próximo ano, espero a continuidade do que plantamos em 2021. Ainda precisamos de muito adubo e rega, mas as sementes que plantamos são fortes e vão colaborar com a expansão da Rede e a consolidação desses 10 primeiros anos de crescimento,” diz Milena.
“Tenho grandes expectativas em relação ao fortalecimento da agenda de advocacy e de filantropia comunitária de justiça social, através de todo o programa de incidência da Rede, porque acredito que isso vá reverberar e repercutir muito no setor filantrópico do Brasil e no cenário internacional por meio dessas parcerias que a Rede construiu neste ano. E também quanto ao fortalecimento da própria Rede com a chegada de novos membros, reflexo de todo esse trabalho em 2021”, avalia Betina.
“As expectativas são muitas. Em especial, 2022 traz a comemoração dos 10 anos da Rede. E a realização de um desejo que a Rede já vem manifestando há bastante tempo, que é o reposicionamento da marca. Acredito que vai ser um ano em que já será possível realizarmos alguns encontros presenciais, atividades mais abertas. Isso é uma dívida que nós temos com o setor. E também vamos cuidar do fortalecimento da equipe, pois todas essas frentes, além da inclusão de novos membros, vão criar muitas demandas”, analisa Graciela.
Todas essas ações articuladas em torno da Rede e de seus integrantes seguem, assim, contribuindo para fortalecer a agenda de incidência por meio do apoio às organizações membro, do desenvolvimento de parcerias e estratégias que incidam sobre o ecossistema filantrópico, promovendo a agenda da filantropia comunitária e de justiça social, e com notáveis desdobramentos projetados para 2022.