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ABCR: engajando a comunidade na sustentabilidade da organização

Por João Paulo Vergueiro

Na fundação da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), em 1999, um grupo de profissionais se reuniu e decidiu que era a hora do país ter uma instituição que promovesse o trabalho que eles estavam realizando com tanta dedicação: mobilizar recursos para causas.

Indo em uma direção distinta de organizações que contaram com apoio e financiamento internacional para se alavancar, a ABCR buscou o seu próprio caminho: se recusou a ser um capítulo (chapter) da associação norte-americana de profissionais de captação e procurou conectar-se com quem estava na linha de frente de uma atividade até hoje não completamente compreendida e valorizada no país: a de promover a sustentabilidade econômica das organizações da sociedade civil.

A opção definida 20 anos atrás de nos constituirmos e nos mantermos a partir da nossa base teve suas vantagens e desvantagens.

Por um lado, a própria instituição que reúne profissionais de captação tem dificuldades de mobilizar recursos para se manter ativa. Isso pode parecer um contrassenso, e é realmente um pouco. Mas deve-se levar em conta que somos uma associação de indivíduos e não de grandes instituições. Além disso, não nos focamos em uma única causa: nossa missão é o fortalecimento de todo o setor, de todas as organizações que atuam por suas causas – e quem apoia esse tipo de trabalho no Brasil?.

Por outro lado, nós buscamos efetivamente expressar a vontade da nossa base, das centenas de profissionais que estão diuturnamente trabalhando para engajar doadores e outros apoiadores e garantir que as causas que defendem avancem de forma sustentável e efetivamente transformadora.

Por estarmos tão próximos dessas pessoas passamos a perceber que também na captação de recursos é importante para o sucesso que as instituições se conectem com suas próprias bases e comunidades onde estão inseridas, de forma que a sua sustentabilidade econômica passe a vir também daí.

Afinal, pensamos, o que torna uma organização da sociedade civil realmente legítima? É o trabalho que ela realiza por conta própria, ou o fato de ser apoiada por pessoas que acreditam e confiam nesse trabalho desenvolvido, a ponto inclusive de financiá-las?

E aí que entra a força das comunidades, o poder que existe nas comunidades. Por todo o país as organizações estão aprendendo a mobilizar recursos no próprio território em que atuaram por décadas, mas onde nunca incidiram com a perspectiva de serem também financiadas a partir dele.

Um exemplo disso são as campanhas comunitárias do Dia de Doar. Iniciativa simples, descentralizada, as campanhas comunitárias são mobilizações realizadas nos bairros, cidades ou estados em que as pessoas e demais atores locais são incentivados a doarem para as próprias causas da região.

Muitas campanhas comunitárias surgiram no país e estão contribuindo para promover a filantropia localmente. #DoaSorocaba, #DiadeDoarGramado e #DoaSergipe são apenas algumas delas, que às vezes mobilizam a comunidade durante todo o ano (e não apenas no próprio Dia de Doar), ou de forma mais pontual, como nos exemplos do #DiadeDoarTubarão, #DiadeDoarSalvador e #DoaCampoGrande.

Outro exemplo interessante e bem pouco conhecido no Brasil são os círculos de doação. Eles efetivamente existem e mobilizam redes de pessoas que se juntam para reunir recursos durante um determinado período, ou o ano inteiro, escolherem uma causa e organizações que representam esta causa, e doar.

É a comunidade se mobilizando para doar na própria comunidade, mesmo que sem a institucionalidade de uma organização por trás.

Esses são só alguns dos temas que vamos abordar no Festival ABCR 2021, a décima terceira edição do principal encontro brasileiro de mobilização de recursos para causas.

Online pelo segundo ano consecutivo, o Festival ABCR proporciona a pessoas de todo o país aprofundarem seus conhecimentos sobre captação e interagirem com outras que estão em lugares diferentes, mas que muitas vezes têm os mesmos desafios.

E o Festival ABCR é também um exemplo de construção coletiva, a partir da própria base: a maior parte das sessões oferecidas foram apresentadas por profissionais voluntários, que se candidatam para compartilhar conhecimento, e um Comitê Científico, também formado por pessoas voluntárias, preenche o restante da grade com o conteúdo que faltar.

Inclusive esse ano teremos uma sessão específica para apresentar o Doar para Transformar, que a Rede de Filantropia pela Justiça Social lidera no Brasil. Vale a pena assistir!

O Festival ABCR será dias 28 a 30 de junho, com mais de 15 horas de conteúdo ao vivo, e pelo menos 60 horas para ser assistido pelos três meses seguintes ao evento. Saiba mais em www.festivalabcr.org.br e participe.


João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR

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