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Campanha de doação “Quanto vale?”: A experiência do FunBEA junto aos coletivos socioambientais do litoral norte de São Paulo

Campanha de doação “Quanto vale?”: A experiência do FunBEA junto aos coletivos socioambientais do litoral norte de São Paulo

Foto: Freepik / rawpixel.com

Por Larissa Ferreira

O FunBEA (Fundo Brasileiro de Educação Ambiental), no ano de 2022, lançou a campanha de doação “Quanto Vale?”, com a intenção de apoiar três coletivos socioambientais que atuam com ações de base comunitária, educação ambiental, cultura e arte no Litoral Norte de São Paulo.

Apesar de desafios na mobilização de recursos para a campanha, com o apoio da Rede Comuá e da Global Found for Community Foundation (GFCF), o FunBEA pode fazer o repasse de recursos financeiros para os três coletivos, sendo eles, o Coletivo Caiçara, o Coletivo Educador de Bertioga e o Coletivo Escambau Cultura. 

Além do pilar financeiro, o FunBEA tem em sua atuação os pilares político e formador, a partir da perspectiva de uma Educação Ambiental (EA) popular, crítica e transformadora. E como foi construído o relacionamento com os coletivos parceiros na campanha? De que forma essa construção pode contribuir para o campo da filantropia comunitária?

Essas foram algumas das perguntas que motivaram a realização da pesquisa “Filantropia comunitária e Educação Ambiental: análise do círculo de doadores do Litoral Norte de SP”, que fez parte da primeira edição do Programa Saberes da Rede Comuá. Alguns dos achados são compartilhados a seguir. 

A principal estratégia para manter o relacionamento com os coletivos parceiros na campanha foi a realização de encontros virtuais mensais com pessoas representantes dos coletivos, ao longo do ano de 2022, tanto nos meses de planejamento e estruturação da campanha quanto nos meses em que a campanha foi lançada ao público. 

Os encontros voltaram-se para processos formativos nas temáticas de educação ambiental e mobilização de recursos, além de aprofundar as discussões sobre a identidade de cada coletivo e dialogar sobre onde pretendiam alocar o recurso doado, para que o FunBEA e os coletivos pudessem pactuar isso de forma colaborativa. 

Como aponta Doan (2019), em muitas percepções sobre o conceito da filantropia comunitária, é reforçada a ideia de que a comunidade precisa ter liderança e controle sobre os recursos que são doados e investidos em seus territórios. 

No caso do relacionamento com o FunBEA, os coletivos afirmaram que tiveram autonomia para decidir como investir os recursos doados e que tiveram espaço para proposições e para compartilhamentos. “O acolhimento do FunBEA, das nossas dificuldades, o respeito das tomadas de decisões do coletivo, nenhum momento foi forçado a nada, acho que deixaram muito livre, deram uma autonomia muito grande, até as mudanças de percurso no meio do caminho” (Representante do Coletivo Caiçara). 

As estratégias de relacionamento com os coletivos além de fomentar autonomia no uso dos recursos, incentivou melhorias internas, amadurecimento, visibilidade e despertou a atenção para a continuidade da busca de outros tipos de financiamento. Assim como, o fortalecimento da identidade dos coletivos, respeitando as características de cada um. 

Para o Coletivo Escambau Cultura, o fortalecimento veio no sentido de amadurecer um processo que o coletivo já havia iniciado, que era o de compreender melhor a sua identidade, e que fazer parte da campanha foi importante para dizer com mais clareza o  “quem somos nós”. Leila, representante do Escambau, avalia que o coletivo nesse processo ficou mais robusto e que ao pensar em planejamentos futuros o coletivo ampliou o olhar sobre as possibilidades de mobilização de recursos. 

Uma outra questão que aproxima uma organização para atuar fortalecendo o campo da filantropia comunitária é o seu compromisso em estar atenta às normas e valores fundamentais ao campo, sendo que estes incluem, confiança, reciprocidade, responsabilidade, solidariedade e transparência (DOAN, 2019). Os três coletivos compartilharam que perceberam, ao longo do relacionamento com o FunBEA e entre eles, a presença desses valores.

“Eu me sinto completamente confiante no FunBEA, na questão do coletivo, de poder ser representante do coletivo, porque a responsabilidade é tanta, foi trazido mês após mês, uma somatória de valores, que traduz na confiança e isso vai firmando até chegar nessa confiança que nós temos hoje.” –  Claudia do Coletivo Educador de Bertioga.

Existiram também desafios que remetem ao campo da filantropia comunitária, tais como, a mudança da perspectiva de quem é a(o) doador(a), sendo ainda um desafio compreender que quem doa não é apenas pessoas/empresas de alto poder aquisitivo e que a doação não é apenas em termos de recursos financeiros, mas também as próprias comunidades no seu fazer cotidiano doam diferentes recursos, talentos, habilidades, ou seja, além do capital financeiro, um capital social.

Outro desafio nesse sentido foi identificado em relação aos coletivos contribuírem com seus próprios recursos e talentos, visto que existe uma sobrecarga de trabalho das pessoas que fazem parte dos coletivos, pois todas atuam de maneira voluntária e muitas vezes, pela falta de tempo e excesso de demandas, acabaram tendo dificuldade em se envolver mais com a campanha e agregar outras pessoas do coletivo.

Porém, ao avaliar o relacionamento com os coletivos parceiros da campanha como um todo, pode-se dizer que o FunBEA teve sucesso em relação às suas expectativas de oferecer apoio aos coletivos com base em seus pilares de atuação político, formador e financeiro. Essa experiência aponta que proporcionar a democratização de acesso à recursos por grupos não formalizados é capaz de contribuir com ações locais que são efetivas para a transformação socioambiental dos territórios.

Quer saber mais sobre os achados das experiências internacionais de círculos de doação e conferir as referências deste texto? Acesse o relatório completo da pesquisa! Clique aqui.

Larissa Ferreira é gestora e Analista Ambiental, atualmente é mestranda em Educação na UFSCar. Atua como educadora voluntária no FunBEA – Fundo Brasileiro de Educação Ambiental. Fez parte da primeira edição do Programa Saberes da Rede Comuá, com a pesquisa intitulada “Filantropia Comunitária e Educação Ambiental: análise do círculo de doadores do Litoral Norte de São Paulo”.

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