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Por Larissa Ferreira
A filantropia possui diferentes estratégias no que diz respeito à mobilização de recursos, e uma delas são os círculos de doação – em inglês chamados de giving circles. O círculo de doação é uma estratégia que aproxima as pessoas doadoras e as organizações que recebem recursos.
Mas afinal, o que se sabe sobre os círculos de doação? Para o quê as experiências internacionais têm apontado? Como podem contribuir para a filantropia comunitária? Com essas perguntas em mente realizou-se um mergulho na literatura sobre experiências internacionais de círculos de doação e os achados são compartilhados a seguir.
Para a revisão bibliográfica foram escolhidas a Biblioteca Virtual do GIFE (Sinapse); o site “givingcircles.asia”; o Google e o Google Acadêmico. Dos 26 materiais levantados e analisados, 25 deles estavam em inglês. Apenas 1 estava em português e abordava experiências que não fossem dos Estados Unidos e países da Europa e da Ásia. Ou seja, de maneira predominante, os estudos sobre experiências internacionais de círculos de doação concentram-se em países do Norte Global.
Mas é círculo de doação ou círculo de doadores?
Um dos materiais encontrados aponta que existe uma diferença entre dizer círculo de doação ou círculo de doadores. Para Boyd (2017), o círculo de doações é um grupo de pessoas doadoras que se reúnem, juntam suas doações e decidem juntas o que vão apoiar – são grupos iniciados pelas pessoas doadoras. Enquanto que um círculo de doadores é um grupo de pessoas doadoras reunidas por uma organização social para ter impacto ou objetivo compartilhado – o grupo é iniciado pela instituição e é um mecanismo para arrecadar recursos para a mesma.
A maior parte dos materiais são sobre experiências de círculos de doação iniciados pelas pessoas doadoras e foi possível analisar os materiais a partir de: características gerais e país de atuação; influência do círculo de doação no comportamento, atitudes e conhecimento das pessoas integrantes; estudo de caso de círculos de doação; modelos/estrutura de círculos de doação; impacto dos círculos de doação no cenário filantrópico; relação entre círculos de doação e organizações anfitriãs; e como e por quê estabelecer um círculo de doação/doadores.
Os achados também apontaram como os círculos de doação podem contribuir para democratizar a filantropia e rejeitar o poder da filantropia tradicional.
Segundo Eikenberry et al. (2009) e Eikenberry; Brown e Lukins (2015), os círculos de doação possibilitam expandir as doações principalmente para organizações e causas que não recebem tanto apoio da filantropia tradicional, tais como, mulheres, grupos étnicos/raciais minorizados e desenvolvimento comunitário.
As narrativas dos círculos de doação também podem contribuir para resgatar tradições históricas de solidariedade e ajuda mútua, a partir da ideia de que diversos grupos sociais possuem tradições antigas de autocuidado, sendo assim doar remete a importância da cooperação e do cuidado com as pessoas ao redor (JANGARA, 2021).
Nos EUA, por exemplo, alguns círculos de doação entre as comunidades afro-americanas baseiam-se na narrativa de fortalecer o senso de pertencimento de comunidades historicamente marginalizadas, assim como, validar a ideia de que mudanças significativas podem ser alcançadas por meio de doações da população negra (JANGARA, 2021).
As experiências internacionais sobre círculos de doação apontam que essa estratégia tem muito a contribuir para a filantropia comunitária, porém, percebe-se que existe um maior número de estudos na perspectiva de quem doa e das características do próprio círculo de doação.
Para além dessa perspectiva, considero importante ampliar as investigações para discutir o quanto a atuação desses círculos estão comprometidos com a justiça socioambiental e a garantia de direitos. Assim como, ampliar a compreensão sobre as maneiras de mobilizar doações coletivas de países da África e da América Latina.
Quer saber mais sobre os achados das experiências internacionais de círculos de doação e conferir as referências deste texto? Acesse o relatório completo da pesquisa! Clique aqui.
Larissa Ferreira é gestora e Analista Ambiental, atualmente é mestranda em Educação na UFSCar. Atua como educadora voluntária no FunBEA – Fundo Brasileiro de Educação Ambiental. Fez parte da primeira edição do Programa Saberes da Rede Comuá, com a pesquisa intitulada “Filantropia Comunitária e Educação Ambiental: análise do círculo de doadores do Litoral Norte de São Paulo”.