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Como a linguagem de “M&A” pode ser uma barreira para a institucionalização do aprendizado

Por Barbara Klugman

Olá, sou Barbara Klugman, doutora e moradora da África do Sul. Fui ativista contra o apartheid e pelos direitos das mulheres, e hoje atuo como freelancer na prestação de serviços de apoio em estratégia e avaliação para financiadores, redes e ONGs de justiça social.

Trabalho com grupos engajados na mobilização e defesa de direitos para justiça social ou ambiental. Nesse processo, percebi que às vezes o termo “avaliação” por si só é capaz de prejudicar a possibilidade de que esses grupos deem início ou institucionalizem seus processos de coleta de informações, reflexão, aprendizado e adaptação. Sua experiência de “M&A” é o requisito criado pelos financiadores em que eles nomeiam, antecipadamente, o que farão e em que incidirão. Isso pode funcionar muito bem para um grupo tocando um serviço já estabelecido, mas é cheio de mistérios que praticamente exigem adivinhação e completamente inapropriado para grupos cuja efetividade depende da capacidade de adaptar suas estratégias tanto de protestos quanto de advocacy à medida que discursos públicos e políticos mudam, e conforme janelas de oportunidade para incidência se abrem e depois se fecham. O que quer que tenham planejado, eles podem ter que mudar.

O termo “M&A” está associado com o poder dos financiadores e com uma accountability exigida de cima e que não é negociável, assim como as atividades de coleta de informações de rotina. Ainda assim, muitos desses grupos são profundamente reflexivos, realizando pesquisas e consultas para entender onde pisam e definir estratégias, e se engajando em processos de revisão antes e depois das ações que dão suporte a aprendizados emergentes. De fato, quando conduzo oficinas de avaliação, costumo argumentar que ativistas eficientes são avaliadores de nascença, dentro de sistemas complexos. Eles sabem ler o terreno – as partes interessadas, as diferentes perspectivas, o ambiente que os circunda – e planejam suas estratégias de acordo com tudo isso. Depois de qualquer ação, eles perguntam: o que funcionou? O que não funcionou, e por quê? O que podemos fazer diferente na próxima vez? Rapidamente, eles mudam de estratégia.

O desafio que muitos deles enfrentam é que eles fazem isso seguindo o ritmo do seu ativismo, mas quando se tornam mais do que um grupo pequeno, precisam ser capazes de documentar sua incidência e construir uma análise compartilhada com suas instituições e através das suas redes. Apenas ter insights dentro de suas cabeças e corações não é o suficiente. Eles também precisam ter dados específicos sobre seus resultados e contribuições para incidência claramente documentados, para o aprendizado interinstitucional e em rede, assim como para embasar sua comunicação e captação de recursos.

Lições aprendidas

Para fortalecer sua capacidade de capturar suas histórias de mudança e institucionalizar seus processos de reflexão e aprendizado, parei de usar a linguagem de M&A ou MAA. Passei a perguntar sobre como eles abordam a reflexão estratégica. Ainda que o termo “aprendizado” esteja em alta entre avaliadores no momento, para muitos dos meus clientes ele está associado com escolarização e educação; já “estratégia” faz parte do seu jargão e faz sentido para eles.

Em relação a isso, aprendi que na hora de contratar um colaborador para dar apoio às atividades de coleta de dados em um grupo de justiça social, é preciso ter um pé atrás com candidates cuja única experiência com “M&A” é fazer checklists de monitoramento de compliance em contratos para prestação de serviços financiados por editais, em que os dados não são usados para a avaliação de fato.

Em vez disso, esses grupos devem procurar alguém que tenha experiência no ativismo e advocacy, com formação em teoria social ou política, alguém que vai carregar os princípios da ação coletiva e uma lente avaliativa. 

Materiais para consulta:

– Para ler mais sobre promoção do aprendizado emergente, veja: 

Darling et al 2016 Emergent Learning: A framework for whole-system strategy, learning and adaptation.  

– Para ler mais sobre mudanças na abordagem dos financiadores em relação à accountability, veja:

Taylor, A., & Liadsky, B. (2018) Achieving Greater Impact by Starting with Learning , Taylor Newberry Consulting; and Honig, D. (2020). Actually Navigating by Judgment: Towards a new paradigm of donor accountability where the current system doesn’t work. Policy Paper 169, Centre for Global Development.

*Texto originalmente publicado em inglês pela Associação Americana de Avaliação (AEA), no blog AEA365: https://aea365.org/blog/ol-ecb-tig-week-must-we-call-it-evaluation-how-me-language-can-be-a-barrier-to-institutionalising-learning-by-barbara-klugman/ e traduzido para português para o blog da Rede por Caio C. Maia.

*O texto foi produzido durante a “Semana do Grupo de Interesse Temático em Aprendizado Organizacional e Capacitação em Avaliação (OL-ECB TIG Week), tendo como título original “OL-ECB TIG Week: Must We Call It ‘Evaluation’? – How ‘M&E’ Language Can be a Barrier to Institutionalising Learning.”

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