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Covid-19 é uma questão de justiça social: a resposta de uma fundação comunitária brasileira

Em 18 de março, nosso governo determinou o fechamento de escolas públicas, organizações sem fins lucrativos e outros serviços públicos que prestam serviços essenciais às famílias mais vulneráveis ​​da região da Grande Florianópolis, Brasil.  As crianças em vulnerabilidade social, em particular, dependiam da comida que lhes era oferecida na escola ou de organizações sem fins lucrativos locais.  Ao mesmo tempo, os trabalhadores informais começaram a perder sua renda em função de isolamento social.  Foi uma onda de perdas que evidenciou ainda mais claramente o quão desigual é a nossa região. Pessoas em situação de vulnerabilidade social ​​rapidamente começaram a sentir medo: não apenas do vírus Covid-19, mas também o medo da fome, o medo de não ter acesso à água potável, o medo de não ter renda etc. No mesmo dia, 18 de março, organizações de base comunitária, parceiras do ICOM – Instituto Comunitário Grande Florianópolis começaram a mobilizar suas comunidades e a lançar campanhas de arrecadação de fundos para garantir que os alimentos chegassem aos mais necessitados.

A importância da nossa “infraestrutura de doação” existente

Em abril de 2018, no ICOM, lançamos um “Fundo de Impacto para Justiça Social”, ou “Fundo Comunitário de Justiça Social”: um círculo de doações recorrentes de empresas e indivíduos que, por meio de um processo participativo, apoiam organizações da sociedade civil  que trabalham para garantir os direitos humanos e reduzir as desigualdades sociais na Grande Florianópolis. O fato de já termos essa infraestrutura de doação fez grande diferença, permitindo nossa resposta rápida.  Enviamos uma carta a cada membro do círculo de doações, solicitando que o fundo fosse redirecionado para atender às necessidades urgentes decorrentes do Covid-19 em nossa comunidade.  Houve um acordo unânime de que precisávamos reagir e, em um dia, 19 de março, já tínhamos uma Linha de Apoio Emergencial em funcionamento, com uma página dedicada em nosso site, onde as doações financeiras podiam ser recebidas.

Enquanto outros grupos em Florianópolis lançaram campanhas on-line posteriormente, em 19 de março éramos uma das únicas plataformas criadas e prontas para receber fundos!  Em apenas quatro dias, levantamos o suficiente para apoiar uma das organizações de base comunitária, na comunidade Chico Mendes, que prestou assistência a cerca de 100 famílias (mais de 500 pessoas) com alimentos, água, produtos de limpeza e higiene.  Na marca de vinte dias, havíamos levantado R$ 98.400 em 145 doadores (pessoas e organizações locais) e uma fundação corporativa nacional doou um adicional de R$ 500.000 .  Com esses recursos, um comitê participativo de doações realizou a destinação a 14 OSCs e Movimentos Sociais que, por sua vez, viabilizaram suprimentos necessários para mais de 900 famílias em risco em Florianópolis.

Pensamento de longo prazo

Iniciamos também um novo programa piloto em cooperação com o Banco Palmas:  criamos um “banco comunitário” que atualmente está sendo testado por 77 famílias e quatro comércios locais na comunidade da Serrinha, comunidade particularmente vulnerável em nossa região, além da comunidade Chico Mendes.  Em suma, com o dinheiro arrecadado através do Fundo do ICOM, o banco abrirá uma conta para famílias em risco (que foram identificadas por organizações comunitárias que trabalham conosco), depositando R$ 200 por mês, por três meses, na conta de cada família.  Estamos chamando de “moedas sociais”, ainda que toda a operação e gestão seja digital. Essas “moedas” podem ser usadas para comprar produtos apenas nos comércios locais. Dessa forma, as famílias poderão adquirir itens de acordo com suas necessidades, enquanto o dinheiro permanece na comunidade por um longo período de tempo.  Estamos muito orgulhosos de poder divulgar essa nova iniciativa!

A equipe do ICOM se reúne virtualmente

A situação de emergência decorrente do Covid-19 e as crises socioeconômicas relacionadas que estamos enfrentando nos fizeram perceber a importância de manter nossas organizações filantrópicas comunitárias fortes e resistentes. Não estamos pensando apenas em termos financeiros, mas também em termos de sistemas de governança fortes e uma equipe engajada! Isso está fazendo toda a diferença para o ICOM, à medida que testamos novas maneiras de trabalhar e agir neste terreno complexo e inexplorado.  A longo prazo, podemos precisar adquirir diferentes habilidades, mas no momento, estamos confiando um no outro, oferecendo tudo o que temos para oferecer.

Números atualizados

Após pouco mais de dois meses do lançamento da Linha de Apoio Emergencial Covid-19, 294 pessoas e organizações (sendo mais de 90% delas, indivíduos), sensibilizadas com o aprofundamento das iniquidades sociais na Grande Florianópolis, doaram por meio do ICOM, visando garantir às pessoas que vivem em comunidades vulneráveis, uma alimentação segura, suficiente e saudável e itens de higiene e limpeza. Como resultado, o ICOM tem fortalecido sua atuação enquanto grantmaker, doando cerca de R$ 133 mil a 24 OSCs, grupos e movimentos sociais. Juntas essas organizações estão beneficiando 1,4 mil famílias e 6,4 mil pessoas na região. Além do apoio financeiro direto a OSCs, 506 famílias de comunidades periféricas estão recebendo uma renda de R$ 600 cada em moedas sociais digitais pelo Banco Comunitário ICOM, correalizado com outras 5 Organizações da Sociedade Civil e Coletivos de Florianópolis, em três diferentes territórios: Serrinha, Chico Mendes e Monte Cristo. O Banco Comunitário é uma das estratégias de apoio da Linha Emergencial Covid-19, que visa um impacto de longo prazo.

Por: Mariane Maier Nunes, Diretora Executiva do ICOM

Para saber mais sobre esse trabalho, visite http://coronavirus.icomfloripa.org.br ou contate Mariane no e-mail  [email protected]

Originalmente publicado https://globalfundcommunityfoundations.org/news/covid-19-is-a-social-justice-issue-how-one-brazilian-community-foundation-is-responding/

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