Por Camila Guedes
O mais novo episódio da série sobre cultura de doação do PodCast da Fundação Dom Cabral conversou com Graciela Hopstein, coordenadora executiva da Rede Comuá, e teve como temática a filantropia e o contexto nacional.
Em sua participação, Graciela abordou o trabalho da Rede Comuá no campo, o atual cenário da filantropia no Brasil, as perspectivas e o potencial do meio. Como ator estratégico da filantropia independente no país, a Rede contribui para seu fortalecimento e consolidação: “A Rede foi criada para consolidar a filantropia independente e marcar um posicionamento. Nós não somos nem organizações vinculadas a empresas nem a famílias, somos organizações independentes. Hoje, ela ocupa um lugar muito estratégico no ecossistema filantrópico, ela traz uma narrativa, uma visão diferenciada, pois são organizações que doam muito recurso financeiro, e não financeiro também. Os membros estão muito articulados com a sociedade civil, com os movimentos e sabem quais são as demandas, como fazer chegar os recursos nas mãos deles, sem burocracia, tentando flexibilizar processos e sair da caixinha em questões mais técnicas, inclusive democratizando o acesso aos recursos filantrópicos. Muitas vezes são pequenas doações, mas chegam efetivamente em quem precisa. E o interessante é isso, existe uma parceria com os movimentos e com a sociedade civil e os fundos determinam as linhas de atuação em função das demandas dos movimentos. É um diálogo e uma construção permanente e esse é um diferencial muito importante.”
Cultura de Doação como um desafio nacional
No contexto da filantropia no Brasil, a coordenadora compartilhou ainda como a cultura de doação é um grande desafio, pois no país ainda possui baixa intensidade, o que é um contraponto pelo potencial dado seu lugar na economia mundial e o que os empresários brasileiros são capazes de doar, além de recursos não distribuídos de forma efetiva para fortalecimento das diferentes agendas sociais “No país, temos uma “filantropia mainstream” que doa muito pouco, que desenvolve mais processo e programas do que doações. Por mais que seja uma filantropia que consegue mobilizar números expressivos de recursos, segundo o CENSO GIFE 2020 de R$3,5 bilhões, apenas 16% desse dinheiro é doado para organizações da sociedade civil e, quando é doado, não chega a ter a capilaridade como temos na Rede. Os membros da Rede querem modificar o campo para transformar a forma como se doa. Na verdade, quem transforma não são os membros, eles apenas colaboram, quem transforma são as organizações que conhecem os territórios e essas agendas, e é isso que queremos trazer para a filantropia brasileira, a importância de reconhecer essa forma de doar e por que doar para esses públicos que são mais estratégicos e tem a capacidade de transformar.”
Potencialidades existem
Com a maioria dos recursos ainda vindos de fora, Graciela levantou o potencial de desenvolvimento do meio no país “Ainda é muito mais expressiva a doação que vem do campo internacional que do Brasil, e nós precisamos reverter esse quadro porque o país tem capacidade e potencialidade de poder doar recursos e depender muito menos de fora, alavancando recursos locais. É isso que precisamos transformar: a cultura de doação, o para quem doar, porque doar e pensando em grandes processos.”
“Nós fomos evoluindo, diversificando, criando infraestrutura, mas ainda estamos muito aquém das possibilidades que o Brasil tem de instaurar uma cultura de doação permanente e que garanta a sustentabilidade de lideranças e organizações da sociedade civil. E não faltam potencialidades, pois o brasil é a 12ª maior economia do mundo. Não faltam recursos, faltam doadores”, pontua a coordenadora.
Escute já o episódio completo disponível em diferentes plataformas.
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Camila Guedes é Assessora de Comunicação da Rede Comuá.