Foto: Shutterstock / Josep Suria
Por Larissa Ferreira
No início de 2022, o FunBEA – Fundo Brasileiro de Educação Ambiental iniciou o planejamento e a estruturação da campanha de doação “Quanto Vale?”, que foi lançada ao público em julho do mesmo ano. O objetivo da campanha foi apoiar três movimentos socioambientais que atuam com ações de base comunitária, educação ambiental, cultura e arte no Litoral Norte de São Paulo, reconhecendo a atuação desses coletivos para a conservação da Mata Atlântica e da cultura popular.
Para isso, buscou-se sensibilizar empresas e pessoas que tem relações com o território para se tornarem doadoras, tornando-se integrantes da campanha “Quanto Vale?” e assim, fortalecer as iniciativas do Coletivo Educador de Bertioga, Coletivo Caiçara e Coletivo Escambau Cultura.
A experiência do FunBEA com o planejamento e a estruturação da campanha de doação “Quanto Vale?” (2022) evidenciou que é desafiador a mobilização e doação de recursos financeiros no Brasil, principalmente para o apoio de causas socioambientais e de justiça social.
Por meio da pesquisa “Filantropia comunitária e Educação Ambiental: análise do círculo de doadores do Litoral Norte de SP”, que fez parte da primeira edição do Programa Saberes da Rede Comuá, buscou-se, dentre outros aspectos, investigar esses desafios dialogando com a própria equipe do FunBEA envolvida na campanha, outros fundos e organizações sociais que possuem experiências com círculos de doação e com potenciais doadores da campanha “Quanto Vale?”.
Para a equipe do FunBEA envolvida na campanha, os principais desafios estiveram relacionados ao envolvimento de diferentes municípios, o que dificulta a captação com órgãos públicos municipais. Outro desafio apontado foi o de dar visibilidade à área de impacto da atuação dos coletivos para as(os) doadoras(es). Por exemplo, os coletivos que atuam e contribuem para a conservação da Mata Atlântica em São Sebastião, estão contribuindo para toda a região do Litoral Norte.
A questão de que os impactos, sejam eles positivos ou negativos, que determinado grupo gera em um território não é restrito ao território, ainda é de difícil compreensão, a ponto de, por exemplo, dificultar uma doação que não seja para o município em que a/o doador(a) está localizada(o).
Outro ponto levantado foi o tempo necessário para maturação da estratégia de relacionamento entre doadoras(es) e a campanha, pois no caso do relacionamento com potenciais doadoras(es) em que não existia um contato prévio, esse tempo costuma ser maior, muitas vezes extrapolando o tempo planejado para a campanha.
Além do fator limitante de tempo, uma reflexão levantada sobre o relacionamento com potenciais doadoras(es) é em relação ao quanto de espaço a(o) doador(a) tem para construir junto a campanha. Existem diferentes perfis de doador(a) e é um desafio compreender cada perfil e o envolvimento que deseja ter com a campanha.
Essa questão também foi apontada por Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá, quando compartilhou que um dos desafios na estruturação do círculo de doação do fundo esteve relacionado a compreender o perfil da pessoa doadora e definir uma estratégia que envolva essa pessoa.
Também percebeu-se que o desafio de mobilizar recursos para as causas socioambientais e de justiça social está relacionado à sensibilização de quem doa, principalmente na perspectiva de ações mais estruturantes e a longo prazo.
O gerente da Associação Comercial de Caraguatatuba compartilhou que a Associação realiza doações para entidades da cidade que são voltadas mais para a assistência social. Ele diz que: “Muita gente não dá valor para o lado ambiental, o lado social por ser motivo mais emocional né, as pessoas sempre ajudam mais”. E complementa que o desafio é sensibilizar as(os) empresárias(os) para causas que podem parecer distantes do cotidiano, tais como, a preservação ambiental e a valorização cultural de iniciativas no território.
Ao dialogar com Larissa, gestora de projetos e de fundos de investimento social do Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM), ela apontou para o desafio de sensibilizar para a causa da justiça social, que pode ser um tema amplo quando a causa não está definida. Enquanto que Elissa, coordenadora de desenvolvimento institucional da Associação Acorde, apontou para os desafios de mobilizar doações para uma questão que não seja de assistência social, mas sim, para formação de jovens a longo prazo, por exemplo.
Os desafios para a mobilização de recursos financeiros para apoiar grupos, coletivos e movimentos de base que lutam por seus territórios, em defesa da vida e de um bem viver coletivo são muitos. É preciso romper com a lógica das doações apenas assistencialistas e imediatas, e ampliar a compreensão do impacto que as doações, quando comprometidas com as agendas de justiça socioambiental, garantia de direitos e o desenvolvimento comunitário, geram nos territórios.
Quer saber mais sobre os achados das experiências internacionais de círculos de doação e conferir as referências deste texto? Acesse o relatório completo da pesquisa! Clique aqui.
Larissa Ferreira é gestora e Analista Ambiental, atualmente é mestranda em Educação na UFSCar. Atua como educadora voluntária no FunBEA – Fundo Brasileiro de Educação Ambiental. Fez parte da primeira edição do Programa Saberes da Rede Comuá, com a pesquisa intitulada “Filantropia Comunitária e Educação Ambiental: análise do círculo de doadores do Litoral Norte de São Paulo”.