Abertura:
Olá, esse é o podcast Comuá, filantropia que transforma.
Aqui, abordamos as práticas da filantropia comunitária e de justiça socioambiental, difundindo seu potencial para apoiar a transformação social, realizada pelas organizações da sociedade civil em seus territórios.
Nessa primeira temporada, vamos apresentar o Knowledge Program da Rede Comuá, que incentiva a produção de conhecimento no campo da filantropia comunitária e de justiça social a partir das práticas
A produção de conhecimento sobre a transformação social nos territórios feita por quem atua neles.
Nada sobre nós sem nós.
Nesse segundo episódio vamos conversar sobre o projeto do Cássio que busca avaliar junto a comunidades o financiamento de microprojetos como prática de filantropia que contribui para ampliar acesso e recursos para as comunidades indígenas.
A Larissa Ferreira, outra bolsista do Programa Saberes que foi entrevistada no episódio anterior, está conosco para mediar essa conversa com o Cássio.
Larissa:
Olá pessoal, eu sou a Larissa participei do episódio anterior do Podcast e hoje vou estar aqui com o Cássio, mas antes só vou me apresentar. Eu sou integrante do Fundo Brasileiro de Educação Ambiental e também sou bolsista do Programa Saberes.
Cássio, passo a palavra para você, se você puder se apresentar e também falar sobre a organização que você faz parte, que você atua.
Cássio:
Sou Cássio Inglês de Souza, sou antropólogo, trabalho com povos indígenas, projetos e desenvolvimento há muitos anos, principalmente na Amazônia brasileira, nos estados do Maranhão, Tocantins, leste do Pará, lançados pelo ISPN, Instituto Sociedade, População e Natureza, uma organização ao qual eu colaboro eventualmente.
Larissa:
E acho que a primeira coisa que eu quero saber é qual foi a sua motivação para você fazer esse projeto?
Cássio:
A motivação que eu tive para analisar os editais de microprojetos é porque eles são uma ferramenta, embora não muito comum, mas uma ferramenta bastante interessante no campo de apoio a projetos indígenas e de comunidades rurais, pois ele consegue atingir um público que os projetos normais não atingem, que é diretamente as famílias, indivíduos e pequenos grupos com apoios de valores reduzidos, mas bastante desburocratizados e que permitem que essas pessoas e famílias acessem diretamente os apoios financeiros e possam desenvolver as suas atividades.
É um mecanismo que é bastante democrático, permite uma capilaridade muito grande e a ideia é da gente analisar e verificar o quão possível é para a replicabilidade desse mecanismo.
Larissa:
Muito importante isso que você traz da não burocracia para acessar os recursos, isso é algo que também apareceu um pouco na minha pesquisa, nesse campo da cultura de doação..
E agora se você puder contar um pouco da metodologia, quais foram os procedimentos de pesquisa que você adotou para realizá-la?
Cássio:
A metodologia que a gente desenvolveu, e vale ressaltar que é um trabalho desenvolvido do programa Saberes da Rede Comuá, que eu fui privilegiado de receber.
Em primeiro lugar eu me juntei com uma parceira de trabalho. A gente manteve um diálogo estreito com a equipe do ISPN, dos editais, então foi uma abordagem participativa e construtiva.
É uma análise externa, mas é uma análise conjunta em que a gente está facilitando. Devido ao fato dos projetos serem apoiados em diversas comunidades indígenas e comunidades rurais do interior do Maranhão e do Tocantins, principalmente, era inviável a gente pensar em pesquisa de campo.
Logo, além da gente analisar os documentos que o ISPN disponibilizou para a gente, fizemos diversas entrevistas tanto com a equipe do ISPN como organizações indígenas parceiras e organizações não governamentais que também colaboraram no lançamento dos editais, mas principalmente conseguimos conversar com diversos beneficiários que receberam diretamente os recursos dos editais.
Um pouco difícil, porque são pessoas que moram numa aldeia, ou numa comunidade. Às vezes tem dificuldade de acesso à internet ou não tem o equipamento para poder se comunicar, a qualidade da internet era instável.
Foi um processo que a gente teve muito apoio do ISPN, mas às vezes para fazer uma entrevista tivemos que contactar diversas vezes esses beneficiários. Às vezes troca de áudios porque a qualidade da internet não permitia uma reunião virtual.
A partir de todos esses insumos consolidamos uma avaliação dos editais com base em diversas etapas do fluxo de apoio ao projeto, na construção do edital, comunicação, divulgação do edital, elaboração das propostas, análise das propostas, aprovação e repasse de recursos, execução, prestação de contas, acompanhamento e até sistematização.
Fizemos então uma avaliação dos micro projetos apoiados pela ISPN com base nesses elementos, e a partir daí realizamos uma reflexão das lições aprendidas e de possíveis inspirações para outros programas.
Compartilhamos com uma equipe do ISPN essas análises numa oficina participativa, complementamos toda essa reflexão e finalmente elaboramos um relatório preliminar para análise de todos.
Larissa:
E durante todo esse processo que você acabou de descrever para a gente teve alguma coisa que te surpreendeu ou que aconteceu de alguma forma que não era muito esperada?
Cássio:
Algo que chamou muito a nossa atenção positivamente foi o entusiasmo dos beneficiários.
Nós, quer dizer, as instituições até consideram o valor repassado bem limitado, dois, três, quatro, cinco mil reais no máximo, para instituição de apoio a projetos é um recurso pequeno, mas para os beneficiários fazia toda a diferença.
Esse entusiasmo não é só uma questão financeira, é uma questão de autoestima, de poder estar acessando o recurso, de poder estar gerenciando, de se sentir agraciado com o apoio para poder realizar o sonho.
Teve muito essa dimensão da alegria, da autoestima, mas também da responsabilidade desses beneficiários de querer mostrar: Olha eu fiz!
Durante as entrevistas eles mandavam fotos, mandavam áudio, mandavam vídeos da roça, das atividades que eles desenvolveram. Isso chamou muito a nossa atenção, essa dimensão da alegria, da autoestima e do entusiasmo dos beneficiários.
Larissa:
Esse relacionamento com as pessoas beneficiárias sobre essa alegria, sobre essa melhoria na autoestima foi notável né?
E como foi esse contato assim? Você comentou um pouco, foram mensagens?
Se você puder contar um pouquinho como você teve essa aproximação.
Cássio:
O contato com os beneficiários foi sempre auxiliado pela equipe do ISPN, pois são pessoas que moram em comunidades isoladas, remotas ou têm pouco acesso à comunicação. Sempre foi importante que a equipe do ISPN nos ajudasse a entrar em contato com essas pessoas e explicasse o nosso trabalho.
A partir desta ponte realizada pela equipe do ISPN a gente marcava um horário. Quando era possível fazer uma reunião por Teams, por Zoom pra gente se ver, nós fazíamos.
Em alguns momentos, em algumas entrevistas a qualidade da internet era muito ruim, e nesses casos nós mandamos um áudio, a pessoa respondia, mandavamos outro áudio e a pessoa respondia, mandava foto. Foi assim, bem variado o tipo de solução desse contato.
E eles nos identificavam como pessoas do ISPN, o recado assim de primeiro era querer mostrar o que eles fizeram, de muita gratidão por parte deles, mas o recado de todos eles é, o que a gente queria é que continuasse, que tivessem mais opções, pudesse dar continuidade, que outras pessoas da comunidade pudessem receber.
Foi um contato, embora distante, com o celular, foi muito caloroso por conta dessa vontade deles de mostrar para nós o trabalho que eles desenvolveram.
Eu queria aqui também falar um pouco de um dos quatro editais que o ISPN lançou, que é o das guerreiras, mulheres Guajajara, que em conjunto com ISPN formularam um edital inclusive com apoio e aporte da Rede Comuá.
Era um edital gerenciado pelo ISPN, mas idealizado pelas mulheres Guajajara da terra indígena Caru, localizada no interior do Maranhão, município de Alto Alegre do Pindaré. Foi um edital voltado para não indígenas, pequenos agricultores do entorno da terra indígena, pois as guerreiras Guajajara entendem que se o entorno não estiver bem, se os moradores das proximidades da terra indígena não tiverem bem também, tende a aumentar a pressão sobre o território indígena.
Já é um processo de longa data que elas têm trabalhado, começou com conscientização, oficinas, diálogos e tudo mais, e culminou nesse momento com este editalzinho.
E foi muito interessante, muito rico, o relato que elas fizeram de inverter os valores. Dos indígenas estarem proporcionando recursos para não indígenas do entorno.
De acordo com elas aproximou muito o relacionamento, houve uma empatia desses agricultores, agricultoras, pois foram muitas mulheres beneficiadas, com os indígenas. Quer dizer, criou um vínculo, um relacionamento que antes não era possível.
Isso foi muito interessante!
Existe ainda a gratidão dos beneficiários, nesse caso não era apenas para o edital, mas também com as mulheres Guajajara, estabelecendo aí uma uma relação até de confiança.
E esperamos que isso realmente gere frutos e que o relacionamento dos indígenas com o entorno seja beneficiado com essa iniciativa.
Larissa:
Muito importante isso que você traz Cássio, até pensando como é o desafio atual para pessoas não indígenas, às vezes estão mais distantes de entender toda a luta, território, demarcação de terras, ver a relevância disso.
Então quando você traz que esse projeto teve um apoio, um financiamento da rede e conseguiu construir um vínculo, uma relação entre as pessoas do entorno com as mulheres indígenas, eu acho que isso é muito valioso mesmo.
Agora você comentou também alguns dos desafios. Ao longo da sua fala foi dando pra perceber alguns elementos, mas se você pudesse destacar:
Quais foram os maiores desafios para você ao longo da realização dessa pesquisa?
Cássio:
Acho que o maior desafio mesmo para conduzir a pesquisa como antropólogo foi não ter um contato pessoal com essas pessoas e não ter podido ir para comunidade porque com certeza a gente visitaria as áreas dos projetos e teria uma aproximação muito maior.
Isso é um desafio limitante, mas eram as condições colocadas no processo. Outro desafio foi esse contato via telefone, via internet, os desafios de conectividade, de aparelho, ou às vezes estava conversando com uma beneficiária e aí vem criança no meio da entrevista, aquela vida de comunidade mesmo.
A gente imagina e consegue projetar que esse é um desafio também para instituições poderem apoiar essas pessoas, pois essa é a realidade delas, de precariedade de ferramentas, instrumentos, nem todo mundo tem computador, pouquíssimos tem, alguns tem celular, outros não, acesso a internet é precário.
Então para assim do processo acho que esta foi uma das maiores dificuldades.
Larissa:
E agora depois de falar dos desafios, quais foram os maiores achados que você considera da sua pesquisa?
Cássio:
Acho que em primeiro lugar é a importância, a efetividade do mecanismo do microprojeto.
Estamos falando em filantropia, justiça social e eu acho que é um mecanismo que precisa ser valorizado, precisa ser fortalecido porque ele permite que famílias, pessoas e pequenos grupos que normalmente ficam à margem desse processo ou tão inseridos num projeto maior, coletivo, de uma organização que também é importante, mas com o microprojeto eles conseguem ter esse acesso direto.
Então esse é um primeiro achado super importante que eu acho que vale a pena divulgar para que outras instituições possam se inspirar.
O segundo elemento é a confiança, é a confiabilidade do mecanismo. Muitos podem pensar que menos burocracia pode gerar uma confiabilidade menor de que a iniciativa vá ser realizada.
E realmente acho que é o contrário pois existe o aspecto da autoestima, do senso de responsabilidade, o projeto é meu, um projeto de pertencimento e de protagonismo.
Na nossa percepção, isso gerou um senso de responsabilidade enorme nos beneficiários, tanto é que de 183 iniciativas apoiadas, apenas uma teve que ser cancelada e por problemas de conflito que a pessoa teve que sair da comunidade.
O que demonstra que a confiabilidade do mecanismo é muito grande.
Acho ainda que um outro aspecto, um outro achado que vale a pena a gente investir é proporcionar a criatividade, proporcionar a busca de sonhos dessas pessoas, essa dimensão dos desejos que aquelas famílias de repente sempre tiveram mas nunca conseguiram um recurso.
Acho que essa também é uma dimensão muito legal que os microprojetos permitem alavancar.
Larissa:
E observando também, eu compartilhei um pouco da minha pesquisa no nosso episódio anterior, mas eu vejo muito essa conexão quando você traz que os microprojetos proporcionaram que os grupos, as pessoas que foram apoiadas, pudessem de fato investir esse recurso da forma que elas quisessem, dentro do território delas.
Isso na minha pesquisa fica muito claro também, essa questão da confiança já de uma relação estabelecida com os coletivos que foram apoiados e como eles trazem essa importância que foi para eles de ter essa autonomia na tomada de decisão desse uso de recurso.
Cássio:
Só complementando, eu acho que um outro achado importante. Estamos falando de iniciativas de comunidades indígenas, de pequenos agricultores, é falado em microprojetos, porque o volume de recursos passados são pequenos, no caso do ISPN era de dois a no máximo cinco mil reais.
Como esse recurso é gerenciado por pessoas ou famílias, eles acabam também dinamizando toda uma rede de reciprocidades, de colaboração de apoios, de mutirões, de puxiruns, de apoios mútuos, que já existem nas comunidades.
Quer dizer que realmente pode até mesmo ser denominado como filantropia tradicional.
É um recurso que aparentemente é pequeno mas ele é potencializado na sua aplicação justamente porque essas famílias conseguem conectar, acionar e dinamizar essas redes de colaboração em reciprocidade nas comunidades.
Larissa:
E você também foi comentando que ao longo do processo a sua organização esteve envolvida.
Ela acompanhou?
Acho que se puder comentar um pouquinho mais como o ISPN acompanhou o processo e as famílias que receberam recurso.
Cássio:
A nossa metodologia de trabalho com o ISPN, vale ressaltar que eu não sou do ISPN, mas temos uma parceria de muito tempo e definimos uma metodologia participativa. É lógico que conduzimos o trabalho, mas com muito diálogo e muita participação deles.
Tivemos uma série de reuniões, tentamos fazer a mensal, mas alguns momentos, principalmente no final do ano, não foi possível. Fazíamos de antemão uma discussão sobre o conteúdo dos microprojetos pensando juntos o roteiro das entrevistas com os beneficiários.
A gente lutou em conjunto com a equipe da ISPN de modo a conversar com beneficiários diferentes: homens, mulheres, indígenas, não indígenas das diversas terras indígenas e tudo mais.
Quando eu falo em ISPN é tanto a equipe local que tocou esses editais, quanto a equipe de coordenação que fica baseada aqui em Brasília.
Isso culminou em uma oficina participativa que realizamos no começo de abril, onde apresentamos para eles, aí uma equipe maior que estavam numa atividade mais ampla lá do ISPN e participaram várias equipes que não estão diretamente relacionadas aos editais de microprojetos.
Apresentamos então os resultados preliminares da nossa avaliação e dialogamos com eles, através de coleta de insumos, comentários, complementações, o que permitiu que pudéssemos enriquecer ainda mais o nosso relatório preliminar.
E a gente acha interessante que dessa oficina participativa, outros programas do ISPN, falaram: “Poxa, a gente podia colocar isso na nossa atuação, de repente abrir um edital de microprojeto.”
Enfim, foi bem interativo o processo com a ISPN.
E claro, estamos pensando que após a conclusão do relatório, que foi uma estratégia de divulgação, está no site, nas redes sociais do ISPN, pensar em como esse produto pode ser trabalhado para fora, para depois.
Como é que ele pode ser tornado mais útil para além do ISPN?
É uma vontade que temos junto com eles, mas não está ainda totalmente definido, no entanto iremos procurar deixar ele o mais útil, mais publicizado, mais acessível para outras instituições.
Larissa:
E sobre os microprojetos, você falou em 183 que foram apoiados, se você pudesse contar o que estava relacionado a esses microprojetos?
Tinha uma temática específica, ou não?
Se teve algum tipo desse direcionamento?
Cássio:
O universo da nossa análise foram quatro editais lançados pelo ISPN, específicos para microprojetos. Dois editais, um bem geral para Maranhão e Tocantins e um outro específico para terra indígena Araribóia que fica no Sul do Maranhão, onde moram várias comunidades do povo Guajajara.
Teve um outro edital, um terceiro edital com apoio da Norad, que é uma cooperação Norueguesa e um quarto edital apoiado pela Rede Comuá conduzida pela ISPN junto com as guerreiras Guajajara voltada paras comunidades do entorno da terra indígena.
As linhas temáticas eram voltadas para o fortalecimento do ISPN que a gente chama de paisagens ecossociais.
Existiu muito apoio para as atividades produtivas, organização do trabalho das comunidades e esteve aberto ainda para projetos cunho cultural em algumas dessas comunidades.
Acho que vale a pena comentar que a maior parte desses editais foram lançados e logo em seguida veio a pandemia.
Então, embora tivesse uma ideia inicial um pouco mais ampla, muitas das iniciativas iniciais acabaram sendo direcionadas para segurança alimentar e para manutenção das pessoas nas comunidades, justamente como um reforço do combate à pandemia. Tinham atividades de hortas, fortalecimento das roças de criação de pequenos animais.
No momento inicial essa foi uma das áreas temáticas mais procuradas pelos beneficiários.
No entanto é importante mencionar os projetos culturais, os indígenas, realizando festas de rituais de passagem de idade, festas de nominação de jovens e crianças, que foi uma coisa assim super interessante porque justamente potencializa a vida comunitária, eles convidaram inclusive pessoas de outras aldeias e tudo mais.
Ao todo mais de 300 iniciativas foram propostas e juntando os quatro editais 183 foram aprovadas.
Para quem quiser conhecer um pouco mais dessas iniciativas, especificamente o edital das guerreiras, tem um vídeo, um documentário curto elaborado pelo ISPN que está disponível no site deles. É bem interessante e dá pra gente ter um pouco mais de materialidade, completude em relação a essa iniciativa tão importante.
Larissa:
Quando você fala que a pesquisa possibilitou que o ISPN se encontrasse numa oficina participativa e refletisse sobre o processo se envolvendo ainda em outras áreas, as quais às vezes eram áreas da organização que não estavam relacionadas à pesquisa, mas que pararam por um momento para olhar para aquilo e discutir junto. Eu acho que isso é um papel que às vezes também não é tão discutido no contexto de se fazer pesquisa, mas que é muito importante, sendo além do resultado que se propunha a chegar a partir de um objetivo, essa questão do que mobiliza no entorno.
Então acho que isso também é muito rico, quando você traz várias áreas do ISPN para discutir sobre a sua pesquisa.
Na minha pesquisa no FunBEA isso tem sido muito interessante também, porque acontece muitas vezes de se pensar no processo de planejamento do projeto, monitoramento e avaliação, mas não de forma tão participativa com todo mundo.
E sistematizar experiências acho que é uma prática que que vai trazendo mais, vai sendo sempre aquele cutucão, aquela provocação para gente parar, porque as instituições têm uma rotina muito atarefada, uma rotina que não é fácil fazer isso, e às vezes é essa oportunidade que uma pesquisa traz.
Existe essa dimensão também que eu considero muito interessante.
E como você pretende, depois de tudo isso que foi construído, como vocês estão planejando esse retorno para as comunidades? Para as pessoas que receberam apoio e que foram o público da pesquisa?
Cássio:
Isso ainda não está claramente definido.
Eu acho que uma das coisas que deixamos claro nas entrevistas é que esse processo, essa avaliação seria importante para que o ISPN pudesse fortalecer o trabalho da instituição com microprojetos.
Embora não necessariamente aquela iniciativa específica talvez tenha um retorno direto, o fato deles terem contribuído para a avaliação pode permitir que a instituição lance outros editais como esse e a mesma pessoa pode se beneficiar ou outras pessoas.
Então esse é um ponto.
O outro ponto é a comunicação, a divulgação da avaliação. A gente começou essa conversa mas não concluímos ainda.
Tem a ideia de obviamente tornar o documento público através do site, das redes sociais do ISPN, mas talvez desenvolver produtos em outra linguagem, como por exemplo um pequeno vídeo, um teaser, alguma coisa assim que poderia ser retornado especificamente para aquelas pessoas que colaboraram com a gente com entrevistas e tudo mais.
Larissa:
E agora já encaminhando para o fim da nossa conversa, eu acho que a pergunta final que tenho para fazer é como você vê, você também já falou um pouco dessa replicabilidade, mas como que você vê esse potencial de se replicar o que você fez, o que você estudou?
Cássio:
A ideia da replicabilidade do mecanismo de apoio a microprojetos era o cerne da motivação da gente fazer esse trabalho.
Tem uma parte além da avaliação específica dos quatro editais lançados pelo ISPN, tem um item lá do nosso relatório que são lições aprendidas, onde apresentamos alguns elementos para materializar possíveis cenários para essa replicabilidade.
Ou seja, o que outras instituições, que estão nesse campo da filantropia voltada para justiça social precisam levar em conta dentro das suas realidades institucionais para poder trabalhar com microprojetos. Quais são as grandes vantagens?
E aí tem a questão da burocratização, da capilaridade, de poder atingir um grupo muito maior, da confiabilidade, do embora a escala do programa não seja muito grande, mas o impacto na vida daquela pessoa apoiada é muito grande.
Existe ainda alguns cuidados que são necessários, justamente por envolver volumes de recursos que não são muito altos, nem sempre é possível fazer um acompanhamento e um monitoramento muito próximo dessas iniciativas, porque se tu vai apoiar uma iniciativa com três mil reais, no caso indígena, às vezes para fazer uma viagem de monitoramento vai custar mais que isso.
Logo existe a questão de custo benefício que é importante.
Mas ao mesmo tempo, o monitoramento e a sistematização das informações é fundamental para que a instituição, para que o beneficiário e a instituição possam demonstrar os resultados. É um ponto de atenção para ser pensado nos processos de lançamento de editais de microprojetos.
Então a gente acha que a replicabilidade é muito grande, é óbvio que tem instituições que não tem uma atuação regional local como o ISPN, ou seja, a gente tem uma uma equipe na região que facilite por um lado, mas talvez tenha dificuldades por outro.
Tem instituições que são fundos, que lançam editais como o Fundo Casa, tem outros tipos de fundo que podem se beneficiar dos microprojetos, mas precisam adaptar a sua realidade institucional e também o tipo de público, pois pode ser aplicado para o público urbano, o público não indígena, o público de comunidades agricultoras. Isso tudo na replicabilidade precisa ser adequado e adaptado.
Larissa:
E agora olhando para você Cássio, pessoa, indivíduo. O que participar, fazer essa pesquisa significou pra você?
Tem significado?
Cássio:
Para mim,aquele profissional como ativista, como antropólogo, como pessoa que trabalha com comunidades indígenas, tem sido muito importante.
Eu estou me sentindo muito mais preparado para, digamos, defender, advogar ou estimular o trabalho com microprojetos como uma ferramenta super importante e super adequada com o que eu trabalho há muitos anos, as comunidades indígenas.
Porque muitas vezes um projeto convencional, grande, médio ou pequeno, mas tocado por uma associação, ou por uma ONG, muitas vezes não conseguem chegar nesse nível das famílias, nesses pequenos grupos.
Eu acho que é um mecanismo que precisa ser valorizado, preciso ser reforçado. Para mim, como pessoa, estou me sentindo muito mais preparado para defender isso, para ajudar na construção e na consolidação desse outro mecanismo.
Larissa:
Muito obrigada Cássio, foi um prazer enorme poder entrevistar você e desejo todo sucesso aí. Sigamos juntos na construção desse programa, das nossas pesquisas e agradeço.
Se você quiser deixar uma palavra final, a palavra é sua.
Cássio:
Obrigado Larissa pela entrevista, simpática como sempre, estimulante pra gente poder estar compartilhando. Um trabalho de pesquisa muitas vezes é muito solitário. Então é uma oportunidade para a gente trocar ideias, para a gente conversar, para a gente interagir.
Queria agradecer muito a Rede Comuá, à equipe, por ter aberto essa possibilidade e principalmente assim por todo o carinho que eles cuidam de nós bolsistas, dos nossos trabalhos, de promover os encontros, de estimular a interação, a gente vê que eles cuidam muito da gente.
Então queria assim, deixar esse agradecimento muito especial pro pessoal da Rede.
Encerramento:
Esse foi o segundo episódio da temporada Saberes, do Podcast Comuá, Filantropia que Transforma.
O programa Saberes fomenta a produção de conhecimento que sistematiza práticas da filantropia comunitária e de justiça socioambiental, demonstrando a sua potência para fomentar a transformação social.
O podcast Comuá, é uma realização da Rede Comuá.
Roteiro, produção e captação, da equipe executiva da Rede Comuá.
Edição do estúdio Ybori.
Disponível nos principais agregadores de podcasts e no site redecomua.org.br
Até o próximo episódio!
Host: Larissa Ferreira
Entrevistado: Cássio de Souza
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