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Formação em Incidência Política na Política na Maré

Formação em Incidência Política na Política na Maré

Foto: Matheus Affonso – @AFFONSODALUA / Reprodução

Por Arcasi e Andreza Jorge

Este artigo tem como objetivo apresentar a iniciativa referente ao “Mês da Filantropia que Transforma”, realizada pela Redes da Maré em parceria com a Rede Comuá. Ao longo de setembro, planejamos e organizamos  uma formação em Incidência Política direcionada a moradores do conjunto de 16 favelas da Maré, localizado na zona norte do Rio de Janeiro. Para nós, pensar em ações de filantropia que sejam capazes de impactar a médio e longo prazo o histórico de desigualdades que vivenciamos no conjunto de favelas da Maré é urgente e estruturante para a mudança que queremos no mundo.

Nesse processo de formação, tivemos 25 cursistas reunidos em 10 encontros, realizados na favela Parque Maré, com uma carga horária de 30h presenciais ao longo do mês de setembro. No desenho do programa do curso buscamos construir uma proposta educativa que contemplasse moradores que já participassem de coletivos e iniciativas nos territórios da Maré e também os que tivessem interesse (ainda que sem experiência prévia), que pudesse estimular a autonomia e fomentar conhecimentos acerca dos mecanismos de acesso a direitos.

O processo de seleção foi realizado a partir de um edital aberto, o objetivo era construir uma turma plural, no qual o nível de escolaridade, idade, gênero e raça fossem diversos, propiciando um ambiente coletivo e não hierarquizado de produção de conhecimento. Também inserimos em nossa proposta e divulgação que teríamos um espaço de “BrincAção” para crianças com uma equipe de educadores, o que possibilitou o acesso de mães, tias e avós ao espaço formativo. Identificamos logo a maternidade como um processo de incidência das mães que vivem em favelas e que se inserem em frentes de lutas por direitos para seus filhos e toda a comunidade. O espaço infantil trazia aspectos relacionados com as temáticas desenvolvidas no curso que foram adaptadas para a idade dos participantes. Essa iniciativa foi uma ação de Incidência em si, tendo em vista que democratizou a participação e produziu um espaço adjacente de formação para as crianças presentes, além de criar um engajamento em pautas relacionadas aos direitos de crianças e adolescentes, trabalho do cuidado e parentalidade. Inclusive, a turma participou da construção e divulgação de um debate público entre candidatos ao Conselho Tutelar 11 -que atende o território- que contou com a participação do “Observatório de Conselhos” (UFRJ) e do “Nossas” (que impulsionou a campanha A Eleição do Ano). Assim, foi possível somar conhecimentos, experiências e práticas de incidências.

O programa do curso contou com uma diversidade temática que foi trabalhada por uma equipe de professores com diferentes trajetórias, áreas de conhecimento e marcadores identitários. Como metodologia do curso, os professores convidados realizavam as aulas em duplas, o que propiciou trocas e diferentes abordagens sobre um mesmo tema. Priorizamos a participação de professores oriundos de periferias, sobretudo da própria Maré, como critério para pensar Incidência Política em contextos micro e macro de atuação localizada. Destacamos que a oferta de ajuda de custo aos cursistas impulsionou a participação e se estabeleceu como investimento no próprio território. O curso estabeleceu um processo de reconhecimento de ativistas da Maré em diferentes agendas, intercâmbio entre favelas, entendimentos de demandas, redes de atuação conjunta, criação de vínculos, de pertencimento e o interesse que demonstraram em prosseguir com os encontros formativos.

De acordo com  Edith Medeiros, uma das participantes do curso e bolsista do setor de Incidência Política da Redes da Maré, “ações como essa em contexto de favela é uma forma de mobilizar e instrumentalizar os moradores, uma vez que os envolve nos processos de luta e busca por direitos”. Foi exatamente essa perspectiva que nos inspirou a realizar  esta formação em consonância com os valores da Rede Comuá de Justiça Social para o fortalecimento de iniciativas de moradores da Maré e suas práticas de incidência política, muitas vezes já desenvolvidas e engajadas por eles  em níveis local, regional e nacional.


Sobre as autoras:

Arcasi é ameduca, moradora da Nova Holanda, mãe do Valentim e bolsista do Setor de Incidência Política da Redes da Maré.

Andreza Jorge é ativista, cria da Maré e pesquisadora do Setor de Incidência Política da Redes da Maré.

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