Por Semíramis Biasoli
Vivemos afinal na era da globalização, em que “cada parte do mundo faz, mais e mais, parte do mundo e o mundo, como um todo, está cada vez mais presente em cada uma das partes. Isto se verifica não apenas para as nações ou povos, mas para os indivíduos” (MORIN, 2003:67).
Atravessando o oceano Atlântico, a imagem da Terra em 3D acessada em tempo real, durante as 11h de vôo, estimula a percepção das conexões entre nós, 8 bilhões de humanos e cada pedaço de nosso pequeno e belo planeta, habitat que compartilhamos com milhões de outras espécies de seres vivos.
Aterrissando em solo europeu, de imediato vem a alegria do contato com a diversidade de culturas, de línguas, da história. A Holanda, mais especificamente, a pacata e florida cidade de Noordwijkerhout, foi o local onde ocorreu o “grande encontro”: IFC 2022 – Conferência Internacional de Captação de Recursos (do inglês Fundraising), liderado pela Resource Alliance, com a participação presencial de 700 pessoas oriundas de distintos países.
Durante quatro intensos dias, compartilhamos experiências, construímos novas ideias e pensamentos e nos conectamos – pessoas e instituições dentro de uma perspectiva colaborativa, na busca de qualificar a incidência da filantropia e da cultura da doação na construção de novos rumos civilizacionais.
Falo no plural pois não estava só, mas sim em uma comitiva de mulheres brasileiras, representantes de oito organizações sociais, que compõem o movimento de mulheres Conexão Captadoras, somando com demais representantes latino americanos presentes, participação minoritária de 2% do total de presentes. A seguir depoimento de uma companheira de jornada:
“Como foi minha primeira participação neste evento, fiquei muito impressionada com a estrutura, a organização, o currículo dos palestrantes e com a diversidade de organizações e captadores de todo o mundo presentes no congresso. A entidade filantrópica da qual faço parte reuniu muitos esforços para que eu pudesse estar presente, e acredito que esse esforço foi recompensado com a qualidade e importância das discussões em que participamos presencialmente” (Iris Farias, Instituto do Câncer de Londrina).
A Conferência contou com extensa programação via palestras, oficinas, rodas de diálogos, entre outras atividades, que podem ser visualizadas a partir de quatro grandes eixos: i) empresas nacionais e internacionais, ii) individual giving, iii) Networkng, iv) comunicação.
A colheita desse rico processo pode ser abordada a partir do conceito de “jornada do doador”. Jornada significando “a caminhada que se faz”, e indo além buscando o sentido figurado de “reunião dos acontecimentos que, de alguma forma, pode tornar compreensível uma ação e suas consequências”.
Inicialmente, compreender a jornada da filantropia e da cultura da doação como uma ação frente à diminuição das desigualdades que encontramos no planeta, desde a perspectiva econômica (países, ricos, em desenvolvimento, países pobres) e indo além, para trazer a visão de justiça: social, cultural, política, ou como abarcamos esse todo na educação ambiental, dentro do conceito de justiça socioambiental.
Ser uma organização, ou profissional que compõe o ecossistema da filantropia e da justiça socioambiental, exige uma série de capacidades objetivas: recursos financeiros, equipe profissionalizada, investimentos em tecnologias, estratégias de comunicação robustas, atualização constante de procedimentos, manutenção e construção de relacionamentos, entre outros, e durante o IFC métodos, experiências e estratégias foram compartilhadas, em busca do aprimoramento de seus participantes.
Porém, um conceito que me marcou nos trabalhos no IFC, é a atenção na “jornada do doador”: Esse conceito traduzo, na ótica da educação ambientalista, sob a égide da subjetividade, que se inicia no trabalhar-se internamente Krishnamurti (2009), e ressalta a importância de se colocar no lugar do doador e estar aberto ao diálogo (Bohn, 2005), exercitar a escuta ativa e assim, permitir a emergência do novo e a realização eficaz do ciclo da doação.
Integrar o Programa de Fortalecimento de Capacidades Profissionais da Rede Comuá, permitiu minha participação na Conferência de fundraising IFC, abriu portas, trouxe novos conhecimentos e relacionamentos e deixa um legado sobre a importância do lugar que ocupamos, FunBEA junto aos demais membros da Rede Comuá, enquanto mobilizadores de recursos, movimentando-os das mãos, ou das escolhas e tomadas de decisões de indivíduos, empresas e organizações, colocando-os a serviço da diminuição de desigualdade socioambiental e da construção de novos caminhos para um mundo imerso na emergência climática.
A Conferência abriu os trabalhos, com o convite à mudança: “Shaping the future toguether”. Quero fechar esse texto, convidando-nos a mudar o presente: hoje é dia de contribuir e somar na luta contra o caos climático, na luta pela movimentação de recursos a favor dos excluídos, a favor de espécies ameaçadas, a favor da justiça socioambiental, e assim, teremos chances de mudar o futuro. Como? deixo para cada uma e cada um de nós refletir e encontrar sua participação nessa jornada que é individual e necessariamente coletiva. De minha parte, trarei em artigo futuro, informações e reflexões acerca de cada um dos eixos trabalhados no IFC, alimentando-nos para nossas jornadas.
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A participação nesta atividade foi viabilizada pelo Programa de Fortalecimento de Capacidades Profissionais, no âmbito do Programa de Apoio Estratégico da Rede Comuá, cujo objetivo é apoiar o desenvolvimento e fortalecimento das competências e capacidades profissionais dos quadros técnicos de organizações membro, ampliando e aprofundando seus conhecimentos e fortalecendo sua atuação nos campos da filantropia comunitária e de justiça social.
Referências:
BOHM, D. Diálogo: comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athena, 2005.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2003.
KRISHNAMURTI, J. Sobre a Felicidade. In: . Acesso em: 21/11/2022.
,https://www.krishnamurti.org.br/?q=node%2F186
Semíramis Biasoli é doutora em políticas públicas de educação ambiental pela ESALQ/USP (2015), associada fundadora e secretária geral do FunBEA – Fundo Brasileiro de Educação Ambiental, advogada, especialista em Gestão e Meio Ambiente pela Unicamp/SP (2004), consultora e educadora ambiental para projetos, programas e políticas públicas socioambientais.
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