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Medindo o que importa – Próximos passos da jornada

Por Barry Knight – consultor para a Global Fund for Community Foundations (GFCF)

Onde estamos

Estamos no meio de um processo com diversas linhas de ação da iniciativa “Medindo o que importa”. Sob a liderança do Global Fund for Community Foundations (GFCF), do Candid e do Philanthropy for Social Justice and Peace (PSJP), cerca de 130 pessoas que atuam na sociedade civil em todo o mundo vêm contribuindo para esse trabalho nos últimos dois anos.

Produzimos, até o momento, um relatório com nossas principais descobertas. O documento “Medindo o que importa” mostra que (i) simples métricas não são suficientes para se compreender a complexidade das mudanças sociais; e que (ii) o descompasso entre as expectativas dos financiadores em relação a métricas e a forma como a sociedade civil trabalha, está prejudicando o desenvolvimento do campo.

O relatório é inconclusivo a respeito dessas questões, mas já traz um pano de fundo e oferece análises e indicações de como progredir em meio as dificuldades. Sua publicação é um registro do progresso dos trabalhos, e uma forma de estimular discussões e ações. O documento foi traduzido para o russo e o português.

Aqui, apresentamos as próximas etapas da jornada para “medir o que importa”.

O que as pessoas querem

A partir do trabalho realizado até agora, temos algumas conclusões bem definidas sobre o que querem as pessoas ativas na esfera da sociedade civil:

1. Uma forma de medir como seu trabalho afeta os complexos mecanismos de mudança social dentro de suas comunidades;

2. Uma maneira melhor de estruturar – e potencialmente quantificar – os dados que elas já dispõem sobre os aspectos intangíveis de seu trabalho (por exemplo, relacionamentos, confiança, senso de apropriação da comunidade, empoderamento, e como a comunidade percebe seus próprios recursos e capacidades);

3. Orientação sobre como organizar as práticas de mensuração dentro das instituições, reconhecendo que muitas delas não dispõem da infraestrutura necessária para fazer análises complexas;

4. Apoio dos pares para combater a solidão da prática de mensurar o trabalho, inclusive compartilhando casos, exemplos e apresentações sobre como o tema vem sendo abordado;

5. Um melhor diálogo com os financiadores, para assegurar que eles tenham uma visão mais completa dos mecanismos de mudança social que financiam, ao invés de insistirem nas métricas normalmente solicitadas às instituições (as quais, muitas vezes, têm pouca relevância para o trabalho na base).

O que as pessoas não querem

Os trabalhos também trouxeram informações sobre o que as pessoas não querem:

1. Um modelo simplificado incapaz de capturar adequadamente os complexos mecanismos de mudança social nos quais elas estão envolvidas;

2. Sistemas de mensuração que pressupõem homogeneidade cultural e que não conseguem valorizar a importância do contexto;

3. Um sistema linear que pressupõe noções simples e previsíveis de causa e efeito, ao invés de encarar a mudança social como um processo múltiplo e polinomial que aponta para várias direções ao mesmo tempo;

4. Sistemas que são estruturados, principalmente, em torno de modelos universais existentes – como no caso dos relatórios “Vital Signs” (Sinais Vitais) ou em versões localizadas dos indicadores ODS. Embora algumas pessoas encontrem utilidade em tais sistemas para situações específicas, métodos customizados são necessários para que se possa alcançar uma compreensão total;

5. Mais pressão vinda de seus doadores para simplificar excessivamente os complexos processos de mudança social observados (e muitas vezes documentados de forma não-estruturada) em seu trabalho nas comunidades.

Como as pessoas querem prosseguir

O processo desenvolveu uma boa dinâmica e é levado adiante pelos próprios participantes. Eles pretendem dar sequência da seguinte forma:

1. Com um processo estruturado de aprendizagem entre pares, que permite a experimentação contínua e o compartilhamento entre os participantes na aplicação de vários modelos de mensuração;

2. Fortalecendo bons exemplos – e não faltam experiências que podem ser ampliadas. Algumas delas são:

  • A aplicação do “ACT Framework” entre as fundações comunitárias russas;

  • Dados longitudinais sobre os processos de mudança social de longo prazo, incluindo o processo de como beneficiados por doações do Fundo para a Reconstrução da Mulher na Sérvia, promoveram mudanças sociais e políticas em larga escala e ao longo de várias décadas;

  • Os esforços da organização Root Change para identificar a confiança dos sistemas por meio do mapeamento da rede, e como adaptar esse método para cada organização;

  • A Rede de Filantropia para a Justiça Social no Brasil e seus membros: monitoramento e avaliação do programa COVID, que estimula doações nas comunidades por meio de programas locais de doação e campanhas de comunicação;

  • O trabalho do #thehullwewant (a Hull que queremos), reunindo os desejos da população local para a cidade;

  • O LIN Centre no Vietnã, medindo o valor da rede de relacionamentos que ajudou a criar;

  • O empenho da Zambia Governance Foundation para medir até que ponto os cidadãos são capazes de deixar de lado a mentalidade de dependência, adotando uma mentalidade voltada a construção de consciência coletiva, que leve ao desenvolvimento da comunidade que desejam.

3. O desenvolvimento de métricas tangíveis para compreender conceitos menos tangíveis (como confiança, a noção de apropriação da comunidade, empoderamento, ou como a comunidade percebe seus próprios recursos e capacidades) que refletem mais plenamente os complexos processos de mudança social nos quais as organizações de filantropia comunitária estão envolvidas. Esse componente incluirá a experimentação de como tais conceitos podem ser compreendidos e potencialmente quantificados – ou como podem ser usados de maneira estruturada para complementar e expandir, por meio de métricas quantitativas (e mais tangíveis) –, dando uma ideia, mais próxima da realidade, do impacto gerado por uma organização;

4. Diálogo com financiadores para identificar como a relação de financiamento pode evoluir para uma situação onde a questão da avaliação e mensuração seja um esforço conjunto e não algo imposto. Esse é um tópico de interesse de alguns dos financiadores que têm participado das discussões, uma vez que reconhecem que seus modelos às vezes não conseguem medir o que de fato importa.

Próximos passos

À medida que avançamos, daremos continuidade a essa comunidade de aprendizagem, trabalhando em base a confiança e boa vontade que se desenvolveu em torno da ideia de progredir para um modelo com princípios comuns, que seja amplamente aplicado a sociedade civil. Isto implicará em:

1. Uma comunidade de aprendizagem em tempo real, para desenvolver o modelo em base à experimentação local e no compartilhamento com pares, onde haverá troca de experiências e se buscará formas de abordar problemas comuns (por exemplo, a mensuração de “thick concepts”, ou “conceitos densos”). Dentro de uma modelo de ‘pesquisa apreciativa’, estarão disponíveis orientação, apoio e revisão por pares;

2. Oportunidades para as pessoas participarem voluntariamente da comunidade de aprendizagem, de forma a contribuírem para o desenvolvimento de um esforço coletivo, com o duplo objetivo de satisfazer suas próprias necessidades relacionadas a mensuração e de colaborarem em busca de novos modelos para medir o que importa;

3. O desenvolvimento de uma iniciativa estruturada, na qual as pessoas se comprometem a compartilhar seu trabalho e a desenvolver em conjunto um modelo que facilite a mensuração. Tal modelo terá princípios e uma estrutura, mas não será rígido e mecânico. Assim, ele contemplará a flexibilidade própria do princípio da equifinalidade, ou seja, a ideia de que existem múltiplas formas corretas de fazer as coisas e nenhuma é necessariamente superior a qualquer outra;

4. Alinhamento com o processo já em andamento no GFCF, onde haverá acompanhamento quadrimestral com as pessoas que receberam aportes. O recente programa de doações do GFCF já estabeleceu com esses beneficiários um estudo de base e acordos para acompanhamento;

5. Abertura a outros atores de fora da comunidade do GFCF para que se unam ao grupo, com apoio financeiro disponível, em certos casos, para viabilizar experimentos locais;

6. Um plano de trabalho para desenvolver a metodologia, escrevendo-a à medida que a comunidade avança e constrói um sistema de propriedade coletiva. Implica também em grupos de trabalho para tratar de questões técnicas específicas;

7. Divulgação ampla dos resultados, incluindo postagens em websites relevantes. A disseminação de conteúdo incluirá exemplos de trabalhos locais conduzidos por membros da comunidade de aprendizagem;

8. O desenvolvimento de um painel de doadores para discutir mudanças dentro da comunidade de financiadores

A propriedade do processo

Toda essa jornada será desenvolvida pela ação de seus participantes, e são eles/as os ‘proprietários’ do processo. Os participantes se comprometerão com altos padrões de engajamento, abertura à aprendizagem e ao prazer de ser parte de um processo destinado a encontrar maneiras de medir o que realmente importa. O GFCF, o Candid e o PSJP trabalharão em conjunto para facilitar a natureza orgânica da iniciativa e assumirão a responsabilidade de registrar seus resultados.

O trabalho levará a questão da mensuração para fora do mundo monótono da gestão de projetos e da contabilidade, proporcionando uma experiência enriquecedora projetada para ajudar o mundo a ‘reconstruir melhor’ (#BuildBackBetter) e a ‘transferir o poder’ (#ShiftThePower).

Para conhecer o documento completo do relatório (em inglês), acesse aqui.

Para conhecer o documento completo do relatório (em português), acesse aqui.

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