Panorama da resposta das organizações membro da Rede de Filantropia para a Justiça Social no contexto da pandemia: recursos doados à sociedade civil
As 12 organizações que integram a Rede de Filantropia para a Justiça Social são fundos de justiça social, fundos comunitários e fundações comunitárias, organizações doadoras, que apoiam a sociedade civil no Brasil (OSCs, ONGs, movimentos, grupos, coletivos, redes, lideranças, defensores/as de direitos etc.). Doam para iniciativas no campo dos direitos humanos, da justiça social e do desenvolvimento comunitário e foram criadas ao longo dos anos 2000 perante a redução de recursos da filantropia e da cooperação internacional para dar resposta ao vácuo do financiamento gerado no âmbito da sociedade civil, consequência desse processo de retirada.
De acordo com levantamentos anuais realizados pela Rede, as organizações membro doaram de forma direta (através de repasse de recursos) um total de R$ 197.129.770,71 (desde a sua criação até o ano de 2018) para o fortalecimento da sociedade civil e, portanto, da democracia brasileira.
Além de fazer doações para a sociedade civil (através de editais, cartas convite e/ou da doação direta), as organizações da Rede mobilizam recursos através de diversas fontes: com instituições filantrópicas internacionais e nacionais; pessoas físicas; empresas; poder público; cooperação internacional etc. Dessa forma, a mobilização de recursos junto às organizações filantrópicas deve ser concebida como uma parceria entre financiadores de natureza distinta, já que os fundos e fundações comunitárias têm um conhecimento profundo das agendas locais (e também das internacionais) e a capacidade de capilarizar a distribuição de recursos, fazendo-os chegar a organizações de base que atuam em diversas áreas (no campo da justiça social e comunitária) e em múltiplas regiões do país, com públicos diferenciados.
São organizações que:
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Tem uma forte articulação e conhecimento da sociedade civil brasileira e sobre o campo de atuação, e das necessidades e demandas das suas redes
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Monitoram e avaliam as iniciativas apoiadas.
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Produzem conhecimentos e investem em ações de desenvolvimento de capacidades para o fortalecimento institucional e a sustentabilidade (política e financeira) de organizações e grupos de base.
Ao mesmo tempo, demonstram capacidade de reagir de forma rápida frente aos diversos cenários, atendendo às múltiplas demandas da sociedade civil.
No contexto da pandemia, todas elas atuaram de forma muito ágil, articulando parcerias para o desenvolvimento de diversas iniciativas de enfrentamento da Covid-19, principalmente em três frentes estratégicas: a) criação de fundos e de doações emergenciais; b) comunicação e produção de conhecimentos e c) mobilização local e campanhas de doação.
O grande diferencial aqui é a capacidade de fazer apoios para iniciativas da sociedade civil de forma ágil e assertiva, ainda que o montante das doações não seja comparável ao volume de recursos mobilizados pelas grandes fortunas, empresas e/ou filantropos/as brasileiros/as que, de acordo com o monitor das doações da ABCR, está na casa dos 6 bilhões de reais.
Esse caminho também amplia as possibilidades de contar com o protagonismo e o poder de decisão das comunidades na mobilização e investimento de recursos locais em áreas e iniciativas consideradas prioritárias, fortalecendo a autonomia da sociedade civil e dando espaço para a criação de dinâmicas inovadoras no campo da filantropia comunitária.
Artigo de Graciela Hopstein, coordenadora executiva da Rede de Filantropia para a Justiça Social.