Por Mônica C. Ribeiro
Um espaço de encontro e acolhimento, de reflexões sobre o poder transformador da filantropia de justiça socioambiental e de novos arranjos possíveis para promover o acesso à direitos socioambientais, humanos e de justiça social
Assim se traduz a realização do Seminário Filantropia, Justiça Social, Sociedade Civil e Democracia, realizado nos dias 20 e 21 de setembro, em São Paulo.
Além da temática principal, que deu nome ao evento, foram debatidos temas como filantropia decolonial, confiança e novos arranjos, mirando em horizontes que se traduzem em mudar as relações de poder e fomentar uma sociedade menos desigual e menos racista.
Concebido para comemorar os dez anos da Rede de Filantropia para a Justiça Social – que agora se apresenta com novo nome, a Rede Comuá – Filantropia que transforma -, o evento foi o primeiro, no pós-pandemia, a reunir em peso integrantes dos fundos membro da Rede, juntamente com atores do Investimento Social Privado, organizações da sociedade civil, financiadores e público interessado.
Em 21 horas de atividade, nas quais mais de 50 palestrantes dividiram suas reflexões com o público, estiveram engajades presencialmente 220 participantes e virtualmente 360 pessoas. Mais de 110 organizações participaram do evento.
Dez anos de resistência e conquistas
Realizado há 12 dias do primeiro turno das eleições, o seminário foi também lugar de celebrar a resistência e o fortalecimento:
“Talvez, acho que para todos nós, os últimos quatro anos foram os mais difíceis, como pessoas que atuamos nesse campo. Não só tivemos a epidemia da covid-19, mas um governo que atua contra a sociedade civil desde o começo, e a nossa razão de ser é o fortalecimento de direitos e da sociedade civil. Como organizações de justiça social nós tivemos que mudar muito rapidamente as nossas estratégias. Fomos colocados em uma posição de resistência em quase 100% do nosso tempo. Sempre resistimos, mas resistíamos e avançávamos. Nos últimos quatro anos fomos só resistência. É um lugar difícil, porque queremos mais, queremos mais direitos, a sociedade precisa de mais direitos. E estar ali, enxugando gelo de direitos já conquistados, não foi fácil. Mas eu tenho certeza de que sem as organizações da Rede e outras, não teríamos resistido”, analisa Ana Toni, do iCS (Instituto Clima e Sociedade).
Para Ana Valéria Araújo, do Fundo Brasil de Direitos Humanos, a Rede celebra um novo momento em sua trajetória. Que começou sua atuação como um grupo de seis fundos e fundações jovens, que se uniu para trocar experiências, aprendizados e enfrentar desafios dessa nova forma de fazer filantropia, inovadora e inexistente no Brasil, e tornou-se um ator relevante dentro do próprio campo da filantropia.
“O fundamento comum desse grupo que estava na fundação da Rede era o reconhecimento de que a gente tinha que trabalhar majoritariamente com doações. Doar para quem estava fazendo na ponta e não fazermos nós mesmos. E como tal a gente também foi inovador. Porque esse grupo e a Rede começou a produzir conhecimento sobre como era apoiar, para que servia, o quão relevante era fazer isso e como fazer. Essa ideia era extremamente inovadora, nos uniu e ela fez com que a Rede pudesse começar a servir como referência, a se transformar num ator relevante dentro do próprio campo da filantropia e a dialogar com outros atores do campo do investimento social privado, trazendo essa pauta do grantmaking, da doação, e de como fazer isso de uma maneira diferenciada. O que a Rede está fazendo hoje é pautar, criar estímulos para que outros tenham um fazer similar, para que a filantropia se transforme e se junte a essa nossa forma de fazer.”
Conhecimento que transforma
A Rede apresentou seu novo programa de produção de conhecimento, o Saberes, e os primeiros sete bolsistas, selecionados dentre 27 propostas recebidas. A iniciativa oferece bolsas para a sistematização de saberes produzidos por lideranças sociais e especialistas que atuam no campo.
Ao final do Programa, os materiais produzidos serão divulgados pelos canais da Rede para o fortalecimento da incidência no ecossistema filantrópico, subsídio para ampliar a visibilidade das experiências abordadas pelos bolsistas e para facilitar o entendimento das formas e conceitos da filantropia junto às comunidades e territórios.
>> Para saber mais, leia o texto de autoria de Luisa Hernandes e Jonathas Azevedo.
Também durante o seminário, foram apresentados os principais achados do mapeamento de organizações independentes doadoras nas áreas de justiça social e desenvolvimento comunitário no país.
O levantamento foi realizado pela Rede em parceria com a ponteAponte, e mapeou 31 organizações em 11 estados brasileiros. Destas, 58% estão localizadas na região Sudeste, 23% na região Norte, 13% na região Nordeste e Sul e Centro-Oeste contam com 3% das organizações cada.
Em comum, as doações realizadas pelas organizações mapeadas são fundamentadas na ideia de que o uso dos recursos e o poder de decisão sobre eles são de responsabilidade das organizações e grupos que recebem as doações, tendo eles o protagonismo sobre sua atuação.
O mapeamento amplia o conhecimento que se tem sobre esse tipo de filantropia no Brasil, suas práticas e contribuição para a justiça social.
Em breve os conteúdos relativos ao seminário serão compartilhados em nossas redes.
Nova forma de se apresentar ao mundo
O seminário também marcou uma mudança na identidade visual e nominal da Rede, que passa a se apresentar como Rede Comuá – Filantropia que transforma.
O novo nome e identidade visual foram cocriados pela Rede em parceria com a FutureBrand SP de modo bastante colaborativo e cuidadoso, buscando refletir os valores e missão da Rede de promover a justiça socioambiental pelo bem comum.
Reflete a atuação de cada fundo e fundação integrante da rede na soma do comum e traz a assinatura e o modo de fazer filantropia que a rede acredita e promove: que transforma. Que é um agente que potencializa a transformação realizada pelas organizações da sociedade civil na base.
Nos próximos meses, nosso site e redes sociais passarão por uma transição para adotar essa nova forma de nos apresentar ao mundo.