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Série de reportagens: 4. Os desafios para comunicar a filantropia comunitária de justiça social

Por Ana Letícia Silva e Paulo Motoryn

Série de reportagens: Os desafios para comunicar a filantropia comunitária de justiça social

Esta é uma série de reportagens com 4 textos derivados de uma entrevista coletiva realizada com as comunicadoras e comunicadores das organizações da Rede de Filantropia para a Justiça Social, identificando os principais desafios vivenciados para comunicar a filantropia comunitária e de justiça social a partir da prática d@ cominicador@es.

Recebemos as reflexões e as colocamos em diálogo compondo esses textos organizados por temas identificados ao longo da leitura e escuta (sistematização), a partir das seguintes perguntas:

● Qual a importância do trabalho que as organizações da Rede realizam para a sociedade? Qual o olhar d@s comunicado@es sobre esse trabalho e como ele revela o significado da Filantropia Comunitária e de Justiça Social para a sociedade?

● Que desafios @s comunicador@s têm enfrentado para comunicar o significado do trabalho das organizações da Rede para a sociedade?

Foram entrevistad@s: Larissa Amorim (Casa Fluminense); Silvia Dias e Fernanda Lopes (Fundo Baobá); Mônica Nóbrega (Fundo Brasil de Direitos Humanos); Renata Saavedra (Fundo Elas); Harley Nascimento (Fundo Positivo); Attilio Zonin (Fundo Casa); Ivanderson Pinheiro (Instituto Baixada); Andreia Coutinho (Instituto Clima e Sociedade); Stefani Ceolla (ICOM); Méle Dornelas (ISPN); Simone Amorim (Tabôa); Andrea Blum (Redes da Maré)

Reportagem 4:

Comunicação articulada em rede e sua potência para incidência em políticas públicas e no campo da filantropia

Comunicadores/as da Rede de Filantropia e Justiça Social falam sobre a aposta em uma lógica distribuída e participativa para potencializar estratégias de comunicação e transformar políticas públicas

A noção mais conhecida de comunicação em rede se traduz no surgimento da internet, que mudou substancialmente as condições e estratégias de circulação da informação. A comunicação em rede, porém, tem um longa história e um sentido profundo para a filantropia de justiça social.

O sociólogo espanhol Manuel Castells, um dos grandes responsáveis pela popularização do termo na sociedade, com a publicação de sua trilogia A Era da informação: Economia, sociedade e cultura, desconstrói o olhar atual do senso comum sobre a expressão. Segundo Castells, o fenômeno surge muito antes da World Wide Web (www), a rede mundial de computadores. Para ele, a internet apenas potencializou fenômenos que já eram existentes na sociedade. O espanhol defende, portanto, que a internet não é sinônimo de comunicação em rede, mas uma de suas possibilidades.

A visão de Castells, sobre a internet como ferramenta e a comunicação em rede como essência, se materializou nas entrevistas realizadas com os/as integrantes das equipes de comunicação das organizações que compõem a RJFS (Rede de Filantropia e Justiça Social). Os/as entrevistados/as deixaram nítido qual a essência da comunicação que praticam: atenta aos desafios e possibilidades das novas tecnologias de informação, mas que prioriza uma comunicação humana, baseada em parcerias e diálogos, portanto, em rede.

Os/as integrantes da equipe da Casa Fluminense, por exemplo, falaram sobre os desafios de uma comunicação ativa e participativa com lideranças sociais e organizações que atuam no campo da gestão pública, sua área de atuação.

“A gente se propõe a, junto com as lideranças sociais, ir criando processos formativos e de mobilização nos territórios, de articulação territorial e temática de agendas. Isso faz diferença nesse cenário: esse olhar do monitoramento, do controle social da sociedade civil. É a partir dessa ação ativa e participativa que produzimos reflexões de políticas públicas melhores, tensionando os tomadores de decisão, identificando em que pontos os processos de formulação das políticas precisam avançar“, afirmaram.

O Fundo Positivo, por sua vez, trouxe a importância da articulação com movimentos e organizações para influenciar políticas públicas. Segundo os/as integrantes da equipe, é a partir da comunicação em rede que é possível debater a ampliação dos direitos sociais garantidos à população com a qual atuam.

“O trabalho do Fundo Positivo visa contribuir para que esse movimento social, ampliando-se para o movimento de mulheres, para o movimento LGBTI, possa continuar o seu trabalho de construção dessas políticas de acesso a direitos, acesso à saúde. Para que essas instituições continuem existindo num país tão diverso e que continuem oferecendo serviços aos mais vulneráveis”, disseram. Nesse sentido, tem uma grande relação com a questão da filantropia de justiça social, por ser um fundo que possibilita que essas vozes possam ecoar através dos movimentos a que estão vinculadas e a ofertar um grande número de serviços a essas populações, especialmente de acesso à justiça e direitos como um todo”, concluíram.

No Fundo Elas, a complexidade de se fazer uma comunicação que não é baseada no institucional, mas nos programas, se torna mais sutil quando se atua de forma integrada com atores do campo.

“Na comunicação do Elas, temos também o desafio de ter realizado ao longo dos anos uma comunicação fragmentada, focada em diferentes programas em vez de comunicar o todo institucional. Temos, portanto, um papel fundamental no apoio à sustentabilidade e ao desenvolvimento dos movimentos de mulheres no Brasil, apoiando há 20 anos suas principais conquistas, mobilizando mais parceiros e financiadores”, afirmaram.

Já o ISPN ressaltou a importância de se ter contato direto com a população beneficiada por seu trabalho para fortalecer a noção de direitos não tão difundidos, como o “acesso ao território”.

“O ISPN atua também no sentido de valorizar as populações beneficiadas, composta por pessoas historicamente marginalizadas ou com direitos negados: agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais. Busca-se deixar com eles o protagonismo das ações, que também se configuram em ações políticas na defesa de seus direitos, principalmente no que diz respeito ao direito ao território”, afirmou a equipe de comunicadores/as.

A equipe do Fundo Brasil traduziu no conceito da criação de pontes a proposta de, mais do que comunicar, atuar em rede, fazendo e fortalecendo conexões como forma de amplificar mensagens.

“Criamos pontes entre grupos de base com afinidades de pautas ou interesses comuns, e destes com parcelas da sociedade interessadas em investir no desenvolvimento sustentável de coletividades por todo o país”, disseram os/as integrantes da equipe que atua com a comunicação do Fundo Brasil.

No Instituto Baixada, os/as comunicadore/as ressaltaram a importância de se “trilhar por um mesmo caminho” quando se deseja chegar a um objetivo comum, no caso, a qualidade de vida do/a morador/a da Baixada Maranhense.

“Todos devemos trilhar por um mesmo caminho levando sempre em consideração os objetivos dos coletivos, o que acaba agregando melhorias na qualidade de vida individual do ser baixadeiro”, lembraram.

Na entrevista feita com o ICOM, ficou evidente o papel da organização em não apenas trabalhar pela autopromoção, mas também fortalecer um ecossistema de organizações e coletivos.

“O trabalho do ICOM é importante porque fortalece a sociedade civil organizada, apoia causas de justiça social, que promovam equidade, democratiza o acesso a recursos e cria espaços de elaboração e compartilhamento de conhecimento”, afirmaram.

No iCS, de acordo com o depoimento dos/as comunicadore/as, o diálogo com múltiplos atores é o caminho mais efetivo e aponta para transformar as políticas públicas de clima.

“Buscamos construir evidências que promovam espaços de diálogo entre múltiplos atores, apontando para impulsionar ainda mais a agenda do clima no Brasil. Isso envolve, então, compromissos políticos e econômicos, além de mecanismos de governança e controle mais efetivos para políticas que afetam o clima”, disseram.

Para o Fundo Baobá, o reconhecimento dos atores envolvidos no processo de comunicação da organização é fundamental. A equipe de comunicação do fundo ressaltou que é preciso saber que quem doa e quem recebe são sujeitos de suas histórias”.

“Embora possa parecer que há uma relação hierárquica diferenciando quem doa e quem recebe, ambos são sujeitos de suas histórias e a filantropia que considera as dinâmicas estabelecidas nos territórios, nas comunidades como peça-chave para a transformação dá essa dimensão de complementaridade dos papéis atribuídos a cada ator político envolvido”, afirmaram.

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