Foto – Agência Brasil | Marcelo Casal Jr
Julho é, historicamente, um mês de afirmação e mobilização das mulheres negras no Brasil. É quando se intensificam ações por visibilidade, justiça e direitos, que culminam em manifestações por todo o país no Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
Em 2025, ele se conecta diretamente a uma das mais importantes articulações em curso no país: a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, marcada para o dia 25 de novembro, em Brasília. A expectativa é reunir um milhão de mulheres negras de todo o Brasil — quilombolas, periféricas, indígenas, urbanas, ribeirinhas, jovens, mais velhas — reafirmando a centralidade de suas lutas na construção da democracia brasileira.
Neste Julho das Pretas, o Fundo Agbara e o Fundo Baobá se unem para destacar e convidar nossos parceiros para o investimento na segunda edição desta iniciativa nacional.
Em sua primeira edição, em 2015, a Marcha mobilizou cerca de 100 mil mulheres em Brasília, resultado de uma trajetória de ativismo que remonta aos quilombos, às irmandades religiosas e aos coletivos fundados nas décadas de 1950 a 1980. A Carta das Mulheres Negras foi um marco político dessa jornada, consolidando demandas por justiça social, direitos ambientais, educação, cultura e segurança — além do enraizamento do conceito de Bem Viver. As organizações negras e suas pautas reivindicatórias saíram fortes desse movimento, avançando politicamente e em termos democráticos.
A Marcha não é um evento pontual, mas um processo em andamento. Ela expressa o acúmulo de décadas de organização de mulheres negras em seus territórios, redes e coletivos. Acúmulo que se traduziu, em 2015, na sua primeira edição e que agora se renova com ainda mais capilaridade e força com expectativa de levar 1 milhão de pessoas a Brasília.
Em quase dez anos, a mobilização cresceu em densidade, influência e alcance territorial. A próxima edição, organizada ao nível municipal, estadual, regional e nacional, reúne vozes de centenas de organizações de mulheres negras de todas as regiões do país.
O processo é coletivo, sofisticado e articulado territorialmente.
É importante destacar que o movimento nasce nas bases, mas reivindica pautas centrais ao futuro do Brasil. Em 2025, dois pilares estruturam a Marcha: Reparação e Bem Viver.
O Brasil precisa enfrentar o legado da escravidão. A reparação diz respeito ao direito à justiça após séculos de expropriação, violência e apagamento — um processo que envolve a devolução de dignidade, de direitos e de territórios.
O Bem Viver, por sua vez, aponta para a construção de outro modelo de sociedade: com justiça social, moradia digna, educação de qualidade, cuidado coletivo, respeito à diversidade e ao território. A centralidade da vida — e não do lucro — orienta esse modelo, que afirma direitos universais.
Por isso, a Marcha convoca toda a sociedade. O enfrentamento ao racismo, ao sexismo, à violência do Estado e às desigualdades é parte estrutural do processo democrático. Ao lutar por terra, moradia, saúde, alimentação, educação e segurança, as mulheres negras defendem o direito de todas e todos a viver com dignidade.
O movimento também é uma resposta ao presente. Atua contrapondo-se e denunciando os elevados índices de violência policial contra a população negra, especialmente os jovens rapazes em territórios periféricos; a permanência das mulheres negras como as principais vítimas da violência e dos feminicídios. Além de estarem à frente das estratégias de resiliência e mitigação diante das maiores vítimas dos eventos climáticos extremos.
Por isso, o Fundo Baobá e o Fundo Agbara — integrantes da Rede Comuá — se reúnem neste chamado à ação. Ambas integram o grupo das organizações da sociedade civil que vêm somando esforços para garantir as condições políticas, operacionais, materiais e de comunicação para que essa mobilização aconteça com toda a sua força e legitimidade.
No caso do Fundo Baobá, o apoio se concretiza em diferentes frentes: articulação com pares da filantropia; apoio financeiro para as etapas de mobilização, formação política e logística da Marcha. Em dezembro de 2024, foi anunciado um aporte de R$ 1,25 milhão, dividido entre o Comitê Nacional, os 26 estados e o Distrito Federal, além de ações específicas voltadas à participação de mulheres quilombolas.
O Fundo Agbara está fortalecendo a Marcha de Mulheres Negras 2025 através do aporte financeiro de 100 mil reais direcionados ao comitê nacional e às iniciativas locais. Além disso, o Fundo atua no fortalecimento de organizações jovens para garantir a formação política e a participação de lideranças juvenis ao evento. Por fim, o Agbara desenvolve estratégias de impulsionamento de outras instituições para o apoio à Marcha através das redes que participa.

O objetivo é se comprometer com um processo que se sustente a partir das bases, mas que exige condições concretas para garantir a presença física e política das mulheres negras em novembro de 2025.
Acreditamos que a mobilização pela Marcha das Mulheres Negras é responsabilidade de todas as organizações comprometidas com a defesa de direitos, com a equidade e com a democracia. Ela não é só das mulheres negras — embora parta delas. Por isso, exige o envolvimento de múltiplos atores: seja para ampliar sua visibilidade, apoiar suas bases, garantir condições materiais para sua realização ou afirmar sua legitimidade pública.
O Julho das Pretas nos lembra que a história das mulheres negras é feita de coragem, estratégia e presença. Que sua mobilização não é pontual, mas permanente. Que há muito elas estão em marcha — nas lutas cotidianas por sobrevivência, nos territórios onde garantem vida com dignidade, nas redes que sustentam o cuidado, a denúncia e a proposição.
Neste ano, queremos somar vozes, forças e compromissos para que a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver 2025 seja não apenas um ato histórico, mas um marco na disputa de caminhos sobre o futuro do Brasil.
Mais informações sobre a Marcha estão disponíveis em:
https://marchadasmulheresnegras.com.br