Foto: Wylly Suhendra/Unsplash
Por: Juliana Tinoco | Coordenadora Executiva da Alianza Socioambiental Fondos del Sur
Do centro das discussões mais progressistas sobre a direção da filantropia global contemporânea, emerge um caso notável de colaboração Sul-Sul: a Alianza Socioambiental Fondos del Sur. A Aliança dos Fundos Socioambientais do Sul Global (em português) é uma rede pioneira de fundos locais de apoio à filantropia comunitária que atuam no Sul Global.
Essa colaboração se insere no atual movimento de reflexão profunda sobre o futuro da filantropia global, buscando promover mudanças significativas no setor, com ênfase em uma atuação mais justa, equitativa e transformadora, alinhada com a abordagem exemplar da Rede Comuá no Brasil. Para além do contexto brasileiro, porém, esse é um movimento crescente em todo o Sul Global, onde o ecossistema de organizações ativistas dentro da filantropia se fortalece a partir de redes, alianças e demais formatos colaborativos comprometidos com essas diretrizes igualitárias.
Os fundos locais sob o guarda-chuva da Alianza Fondos del Sur são organizações oriundas do contexto socioambiental, que se distinguem de outros fundos gerenciados pelo (e no) Norte Global a partir da legitimidade que possuem como organizações ativistas locais, mobilizando recursos para apoiar organizações comunitárias em seus países e regiões, na vanguarda da proteção socioambiental.
Nas últimas décadas, esses fundos desenvolveram uma abordagem única e eficaz para financiar e apoiar organizações comunitárias. Esse novo modelo visa aumentar as chances dos grupos locais (com suas diversas culturas, lutas e soluções) acessarem os recursos necessários, fortalecendo a capacidade das organizações de base de implementarem suas próprias soluções.
O campo da filantropia comunitária surge precisamente da valorização do papel das comunidades locais, seus líderes e recursos, no enfrentamento dos maiores desafios de nosso tempo. Infelizmente, tais forças são frequentemente as mais excluídas do foco filantrópico, enfrentando desafios significativos em termos de acesso a recursos – muitas vezes invisíveis para os doadores tradicionais.
O modelo de apoio dos fundos locais combina a assistência financeira (por meio de bolsas catalíticas) com a capacitação (por meio de assistência técnica, troca de conhecimento entre diferentes grupos e promoção de aprendizado entre pares), entre outras ferramentas. A estratégia abrange os contextos diversos de cada bioma ou região, compreendendo seus principais desafios, experiências bem-sucedidas, lições, atores envolvidos e, em última análise, identificando áreas onde recursos estratégicos podem ser direcionados para apoiar iniciativas significativas.
A Aliança reúne hoje fundos socioambientais de longa data, como o Fundo Casa Socioambiental, no Brasil, o Fondo Acción Solidaria, no México, a Fundación Tierra Viva, na América Central e o Instituto Samdhana, no Sudeste Asiático, a fundos recentemente lançados, como a Fundación Semilla, na Bolívia, o Fondo Socioambiental Peru, no Peru, o Fondo Socioambiental Emerger, na Colômbia, o Fondo Ñeque, no Equador, o Fundo Tindzila, em Moçambique e o Environmental Justice Fund, na África do Sul.
Apesar de ter sua origem na comunhão de atores ao longo de pelo menos três décadas, essa iniciativa pioneira ainda está dando seus primeiros passos oficiais. Em dezembro de 2023, completaremos dois anos de existência, marcada por consolidação e expansão, com a formação de nosso comitê gestor (composto pelos fundos Casa, Emerger e Tindzila) e a chegada de novos membros. Nossa missão seguirá trazendo visões diversas dos atores do Sul Global, e demonstrando os resultados de uma abordagem de filantropia comunitária para a justiça climática – somando-se, dessa forma, a esse ativo movimento progressista no campo da filantropia.
Para conhecer mais sobre nosso trabalho, acesse nosso site.
