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Podcast Comuá – #4 Semeando Fundos Regenerativos Locais

#4 Semeando Fundos Regenerativos Locais em Todo o Brasil

Abertura:

Olá, esse é o podcast Comuá, filantropia que transforma. 

Aqui, abordamos as práticas da filantropia comunitária e de justiça socioambiental, difundindo o seu potencial para apoiar a transformação social, realizada pelas organizações da sociedade civil em seus territórios. 

Nesta primeira temporada vamos apresentar o  Programa Saberes da rede Comuá,  que incentiva a produção de conhecimento no campo da filantropia comunitária e de justiça social a partir das práticas.

A produção de conhecimento sobre as transformações sociais dos territórios feita por quem atua neles. 

Nada sobre nós, sem nós. 

Neste quarto episódio vamos conversar sobre o projeto do Cléber, que promove a rememoração, registro e reflexão sobre a criação do fundo regenerativo de Brumadinho em Minas Gerais. 

Essa sistematização possibilitará replicar a experiência em outros territórios. Mariana Assis entrevistada no episódio anterior do podcast está conosco para mediar essa conversa com o Cléber.

 

Mariana:

Queridos ouvintes, gostaria de iniciar o quarto episódio do Programa Saberes. 

Meu nome é Mariana de Assis e falo diretamente do sul do Brasil. Eu sou bolsista do programa, eu sou administradora de formação, atual estudante de direito e faço parte de uma fundação comunitária chamada ICOM, Instituto Comunitário Grande Florianópolis.

 Eu vou entrevistar meu queridíssimo amigo que tive a honra de conhecer pessoalmente no evento da Rede Comuá, o Cléber, mas eu vou deixar que ele se apresente e conte um pouquinho mais.

Cléber bem-vindo, se apresente e fique super a vontade aí nesse nosso bate-papo. 

 

Cléber:

Obrigado, Mari. 

Bom, eu sou Cléber Rodrigues, sou de Santa Luzia Minas Gerais, sou mineirinho e moro numa comunidade chamada Nova Esperança. 

Eu estou no Sudeste do país, sou bolsista da Rede Comuá e minha pesquisa ela vai de encontro a uma sistematização de experiências do fundo regenerativo em Brumadinho. 

Eu sou conselheiro gestor dentro da Associação Nossa Cidade, a gestora desse fundo, que opera criado para desenvolver microprojetos na região de Brumadinho e ao redor. 

Essa região em 2019 foi devastada por um crime ambiental onde tiveram várias perdas, inclusive perdas humanas, que deixou marcas irreparáveis na comunidade. 

Então o fundo regenerativo de Brumadinho vem de encontro a uma regeneração daquele território através de microprojetos necessários para a comunidade. 

 

Mariana:

É Cleber, eu acho que vai ser quente hoje, a gente vai falar sobre algo que realmente devastou o país todo e esse ano está completando quatro anos. 

Cléber, aproveitando e pegando o gancho diz aqui para o pessoal que nos ouve, o que te motivou a realizar a pesquisa depois de quatro anos? 

A Nossa Cidade, a organização da qual você faz parte, é uma espécie de instituição âncora, né? 

Que promove aí projetos para a cidade relacionados a esse fato?

Me diz o que que te motivou enquanto pesquisador a sistematizar essa experiência?

 

Cléber

Eu falei em outro vídeo também pra Rede sobre a experiência dessa pesquisa, sobre ela ter entrado assim de uma forma coletiva dentro da Nossa Cidade. A gente participou de uma outra pesquisa com o Ponte a Ponte sobre fundos comunitários e a partir daí a Nossa Cidade ficou no radar. 

Depois a Rede Comuá nos convidou a participar desse projeto, aceitamos e o projeto era um projeto muito amplo com vários vieses e a gente optou. Meu objetivo, que aí sim era o meu objetivo bem específico a respeito dessa sistematização, era criar um passo a passo de como esse fundo tinha se desenvolvido naquela comunidade com o objetivo replicar em outros espaços e em especial na minha comunidade, o Nova Esperança. 

Então, o meu desejo vem nesse encontro. De observar e de perceber como isso foi desenvolvido. Porque o crime aconteceu em um dia, 24 horas depois já tinha uma vaquinha rolando, já estava uma vaquinha virtual acontecendo.

As pessoas organizadas já dentro de grupos com esse objetivo de regenerar a cidade, eu vi isso tudo acontecendo dentro da Nossa Cidade e falei: “Gente, isso é muito possível então de se replicar ou de terem em outros espaços como o nosso aqui em Santa Luzia.”

Veio bem dentro deste encontro a minha motivação. 

 

Mariana:

Percebe-se que há uma ligação direta né Cléber? 

Você que é um morador dessa região, que tem um contato com o território, que tem um apego pelo território e por pensar que essa reflexão pode ser replicada em outros lugares também, porque hoje cada vez mais a gente fala muito em fundos comunitários, em como a gente se mobiliza em prol de uma causa.

E nesse processo de pesquisa Cléber, o que te surpreendeu?

Algo que não era esperado e que você percebeu ao longo desse processo de entrevistas? 

 

Cléber:

Muita coisa a partir de um relacionamento com o território de Brumadinho foi se revelando.

Primeiro as dores da comunidade que querendo ou não o crime que aconteceu ali naquela comunidade, naquela cidade e tomou proporções nacionais, internacionais, trazendo uma visibilidade diante do grave problema ambiental que causou e das perdas humanas.

Então deixou ali muitas dores naquela comunidade. 

Eu já tinha ido a Brumadinho, mas não depois do acontecimento. A primeira vez que a gente foi, nos reunimos em equipe para ir lá, para poder começar a pensar em como seria essa sistematização.

E pudemos perceber, e que bom que a gente estava em um maior número de pessoas, porque as dores ali sabe? Tem uma coisa que é muito marcante ali dentro daquela comunidade. 

Outra coisa que também se revelou, que foi uma surpresa e eu não imaginava. Brumadinho é muito próximo de Belo Horizonte, nós estamos falando aí de duas horas de Casa Branca, então de Belo Horizonte a Casa Branca, duas horas não, 50 minutos de Belo Horizonte à Casa Branca, 2 horas até Brumadinho, então é muito perto, mas lá dentro é muito difícil os locais onde os projetos acontecem.

Então nas visitas, a gente viu como que um está bem distante do outro. Um projeto acontece numa ponta e o outro acontece na outra e isso também foi uma surpresa pra mim 

E outra surpresa também que está acontecendo durante essa sistematização é perceber que os processos deste fundo estão amarrados mas eles tem várias pontas e condensar isso tudo dentro de uma sistematização está sendo algo muito surpreendente. 

 

Mariana:

Quando a gente visita um espaço, quando a gente vai pessoalmente esse processo se torna muito mais rico né Cléber?

Então imagino que em palavras numa pesquisa e mesmo a gente aqui conversando nunca conseguiremos entender o que você ouviu daquela comunidade né? 

As feridas ainda que deixam naquelas pessoas e esse processo de que o conhecimento ainda está linkado na mente de algumas pessoas e não tá aí no papel.

Você já deu uma pincelada, um pouco da metodologia para a gente, mas me diz outras formas de como que você vem fazendo, essa metodologia do como que vem acontecendo esse processo de pesquisa? 

 

Cléber

Bom, eu optei pela revisão de literatura, então eu peguei toda a bibliografia que tem sobre o fundo comunitário e a Nossa Cidade fez um trabalho muito lindo onde ela deixou organizado dentro de pastas, drives.

Mas são muitos, então optei por essa revisão, pois eu pego tudo que está escrito e tem muitos blogs que falam sobre isso, no Google tem uma pesquisa extensa, tem muitos textos que foram escritos naquela época, dentro de blogs da Nossa Cidade e fora deles também, de outros autores.

Porque o fundo comunitário iniciou como uma aliança de várias organizações e essas organizações participavam de reuniões, faziam as suas atas e colocavam em um drive. 

Minha pesquisa vem sendo dessa forma, revendo tudo isso, achando esses drives e compilando tudo isso que saiu na época através de uma coleta de informação.

Eu ainda estou indo em loco, estivemos em Brumadinho algumas vezes, eu particularmente já estive lá quatro vezes e fizemos essa coleta de entrevistas junto com entrevistas online, pegando todas essas informações que estão na cabeça de algumas pessoas que receberam o fundo no início e que participaram do fundo logo no início, que são os colaboradores, os gestores, os criadores do fundo e vem sendo bem bacana e emocionante juntar tudo isso dentro de uma pesquisa. 

Vai ser muito bacana apresentar tudo isso.

 

Mariana

E já pegando o gancho dessas entrevistas e nesse processo de visita que você fez, quais foram os achados até o momento?

 A gente já pode dar alguns spoilers para quem está nos ouvindo? 

 

Cléber

Sim, já tem muito achado. Primeiro que os projetos são extremamente incríveis e necessários para comunidade. Porque funciona da seguinte forma, as pessoas escrevem projetos, pequenos projetos que sejam financiados em até três mil reais, preenchem um formulário online de três perguntinhas e envia. 

Um grupo de curadores pega esse projeto, lê esse projeto e da “OK” ou não.

Geralmente esses curadores que indicam as pessoas na comunidade pra poder escrever.

Algo do tipo: “Olha, escreva esse projeto, esse projeto seu é bacana, ele é pertinente e nós vamos discutir.”

E disso saem muitos projetos bacanas, de impacto mesmo dentro da sociedade civil, dentro do meio ambiente de Brumadinho, a gente vê acontecendo diversas pesquisas, desde pesquisas com grandes organizações por trás como é a Aliança Regenerativa, como projetos de grande impacto mas que acontece ali dentro da comunidade. 

A pessoa que vai lá e tira um pneu da comunidade e transforma esse pneu que demoraria anos, séculos pra deixar de existir, a pessoa vai lá e pega e cria uma arte, um artesanato maravilhoso, que dá a cara, que imprime a cara da comunidade. 

Então, ambos, um numa ponta, outro na outra ponta, desenvolvendo projetos incríveis para auxiliar na regeneração de Brumadinho.

Outro achado também, e este é bem pessoal, que é a respeito da persistência da comunidade, foi ver como a comunidade é persistente, ela é resiliente, ela criou uma forma de ressignificar tudo que aconteceu na cabeça dela dando cores e seguindo a vida. 

Chorando as suas perdas mas seguindo a vida.

Então a persistência é algo que começou a mexer comigo também, dentro de mim, o Cléber pessoa. Outra coisa que também mexeu muito foi falar de regeneração. O princípio da regeneração, pois eu achava que ia pesquisar o fundo regenerativo de Brumadinho e acabei pesquisando a mim mesmo, em um processo regenerativo acontecendo dentro de mim, algumas questões vindo também à tona. Exigindo de forma suave e tranquila, mas exigindo também uma regeneração. 

Quando vocês lerem a pesquisa e não vou dar mais nenhum spoiler, mas quando vocês lerem, vocês vão perceber o quanto é lindo tudo que está sendo construído naquele local. 

 

Mariana

Ah Cléber, muito bom te ouvir e saber o quanto a filantropia comunitária nos transforma enquanto indivíduo também, né? 

Ela dá uma chacoalhada tanto no coletivo, quanto nas nossas percepções enquanto pesquisador que vai se aprofundando nas nossas comunidades.

E Cléber você já se apresentou e disse que faz parte da Associação Nossa Cidade.

E aí eu queria te perguntar, como que os demais membros da associação vem acompanhando esse processo de pesquisa? 

Está sendo compartilhado? 

Como está sendo compartilhado? 

Conta pra gente um pouquinho sobre isso. 

 

Cléber

Nós formamos uma equipe sobre a pesquisa e dentro dessa equipe está aberto o leque para que as pessoas da Nossa Cidade, os associados da Nossa Cidade, possam chegar e pesquisar junto e percebemos alguns desafios nisso também. 

A ambição de querer fazer tudo de uma vez, pegar todos os vieses, porque não é apenas descrever um passo a passo do fundo regenerativo, é descrever um passo a passo pra quê, né?

Então, dentro desse pra quê, foi nascendo vários vieses. O objetivo pessoal, que era descrever um passo a passo para aplicar em algum outro lugar. 

Outro viés que foi aparecendo é dar continuidade à captação de recursos em Brumadinho. Porque o fundo chegou uma hora que devido ao crime ele captou um volume grande, mas depois do crime as pessoas se esfriam e a gente percebe que a captação tende a se esfriar também.

Mas as vaquinhas virtuais estão acontecendo, então outro viés que apareceu foi dar sequência a essa captação do fundo.

E mais um viés ainda foi o fato de que se a associação Nossa Cidade é uma âncora de fundos regenerativos e deseja criar em outros lugares, então ela precisa também ser organizada como uma associação estruturada para receber diversos outros fundos.

A gente tem tempo para poder fazer isso tudo, mas como a nossa pesquisa e o objetivo principal é descrever esse passo a passo, nesse momento a gente precisou dar um foco maior nele para que no futuro possamos dar sequência a essa captação, ao retorno dessa captação em Brumadinho, à estruturação, à profissionalização de uma associação.

Só que o mais lindo é isso, a gente vê que o fundo regenerativo foi construído a base do voluntariado, logo a Nossa Cidade não estava tão organizada profissionalmente e ainda assim conseguiu mobilizar voluntários dentro da comunidade, fora dela e a nível internacional para poder colaborar com a regeneração do território. 

É fantástico como aconteceu. Eu tenho usado a palavra, que é incrível! Tão incrível quanto os projetos que acontecem no território. 

 

Mariana:

Acho que casa bastante com algo que a gente, o campo da filantropia vem trazendo com muita incidência que é essa percepção de que as pessoas, quando a gente cria fundos, se mobilizam num momento de tragédia e aí essa sazonalidade faz com que a sociedade civil organizada tende a pensar em estratégias de como manter isso, de como equilibrar esse processo de apoio que geralmente é realizado em momento de calamidade pública, no momento que realmente vira uma repercussão internacional. 

A ideia é justamente a gente provocar que em momentos de “normalidade” continuemos com nosso espírito solidário, seja de doação financeira, seja de outros tipos de doação que você vem trazendo brilhantemente para a gente.

Agora saindo um pouquinho do script, eu lembro muito bem que em compartilhamentos internos quando você chegou na comunidade para entrevistar as pessoas você trouxe um pouco da palavra filantropia comunitária e veio “mas o que que é isso?” Essa estranheza que existe quando a gente faz esse contato, esse alinhamento com a comunidade. 

Conta um pouquinho como foi esse momento, esse primeiro contato com a filantropia comunitária.

 

Cléber:

A gente tem o hábito de utilizar termos que não são tão comuns, né? 

Filantropia. 

Eu lembro que um vizinho meu uma vez falou comigo: “filanpi o que?” tipo “O quê?”

Eu sempre explico da minha forma o que é filantropia,  porque eu acho que é muito amplo tudo que seja.

Eu falo, olha, basicamente é isso, pegar de quem tem mais e doar para quem tem menos e fazer com que a transformação social aconteça em um local. 

Mas pra mim também houve esse aprendizado do que era filantropia. Eu não tinha esse conceito definido, eu achava que a única forma de auxiliar na captação de recurso era através do poder público, através dos prefeitos, vereadores, deputados, enfim. 

Eu fui conhecer há muito pouco tempo Redes como a Rede Comuá, que fazem esse trabalho e ou propriamente a Nossa Cidade que faz esse trabalho de pegar de quem tem mais, de quem detém aí as maiores propriedades e partilhar com quem tem menos, e doar para quem tem menos e eu sempre acreditei que a transformação social pode acontecer.

Eu me espantei, quando vi que não era só aquele nicho que eu conhecia, só aquelas pequenas assim, então a gente tem espalhado no Brasil inteiro grandes Associações, grandes Redes que fazem essa partilha, que fazem a Filantropia Comunitária acontece.

Eu aprendi também no seminário da Rede Comuá que a filantropia ela está existe desde muito antes, ela veio com nossos antepassados negros e já existia na África há muitos, há milhares de anos atrás e acompanhou o povo que veio escravizado para as Américas.

Principalmente aqui no Brasil, essa filantropia nunca deixou de estar dentro das comunidades quilombolas, originárias e veio passando. Então parece que isso está impregnado na gente, parece que faz parte do DNA essa questão da ajuda. 

Eu lembro que isso me acompanhou desde criança, essa questão de pensar nessas formas e possibilidades de auxiliar quem tem menos. 

O universo foi muito justo de me casar assim com Redes como a Nossa Cidade, como a Rede Comuá, como o ICOM aí no sul e tantas outras existentes.

 

Mariana:

Cléber te ouvindo, ressoa em mim algo muito similar à minha prática aqui no sul e no ICOM. 

A gente trabalha também com o fortalecimento de outras organizações, de outros projetos e foi muito interessante quando você trouxe que ela responde um formulário simples de duas, três perguntas justamente pensando em formas de fortalecer, de imprimir a realidade, a identidade daquela comunidade. 

Aqui a gente faz muito esse acompanhamento, esse monitoramento, essas assessorias para fortalecer e para que esses grupos, esses coletivos, a sociedade siga organizada. Consiga não só ter o nosso canal, mas acessar outros dispositivos de mobilização de recursos. 

Como é que vem sendo esse acompanhamento na prática, no pós aí? 

Tem esse formulário que eles preenchem, mas como é que vem sendo esse acompanhamento desses projetos e alguns efeitos dele na prática? 

 

Cléber:

Bom Mari, eu vou pegar essa sua pergunta e vou linkar ela com algo que está acontecendo dentro da Nossa Cidade, que já são pontos positivos dessa sistematização.

Lembra que a pesquisa deu vários vieses? 

Um deles era retomar a captação, criação de novos Fundos e também estruturação da Associação Nossa Cidade como âncora para outros Fundos em outros territórios. 

Nós fizemos uma pesquisa, e identificamos o ICOM como uma dessas organizações que apoiam associações como a Nossa Cidade que está iniciando este tipo de trabalho, e a gente já está antenado para poder pedir a vocês uma assessoria e aí eu já te pergunto se vocês trabalham fora do Sul, para que possa assessorar a gente futuramente nessa cocriação e estruturação da Associação Nossa Cidade. 

Eu falo como gestor da associação agora, como conselheiro gestor dessa nossa necessidade de uma organização como ICOM, com anos de experiência e a Nossa Cidade já com alguns anos também de experiência, mas precisando nesse momento se estruturar. 

E aí eu passo a bola pra você perguntando se é interesse de vocês também assessorarem fora da região sul, passando aqui na região sudeste também. Dando um pulinho aqui em Minas.

 

Mariana:

Saber é isso, é trocar, tem tudo a ver com as nossas pesquisas, com as nossas propostas e com certeza a gente vai tá totalmente à disposição para pensarmos em novas formas de apoio, e desse contato com esses grupos, com esses coletivos e de encontro também às necessidades da comunidade.

Formas flexíveis, tu trouxe bastante na tua proposta, né Cléber? 

Essa questão de editais mais flexíveis que vão de encontro com a comunidade, que desburocratiza esse processo, que realmente apoiem quem está na linha de frente há anos de experiência. Eu acho que a gente tem aí diversas sinergias que dão match nas nossas interações. 

Filantropia é prática e falar de prática não tem como falar de uma maneira unilateral. 

Acho que é aí que a coisa fica interessante, eu acho que toda essa ansiedade quando a gente começou no Programa Saberes em relação ao termo também foi algo que nos surpreendeu e também nos acalmou falando olha eu faço isso aqui na minha comunidade, então foi muito interessante também te ouvir quando veio com esses termos.

Quando a gente vai e fala pra comunidade, a comunidade, poxa, eu não faço isso, eu não sei o que é, mas realmente a gente facilita o processo para que não, você já faz isso há muitos anos. 

E a filantropia é isso, ela reconhece o que já está na comunidade, e ela devolve o poder para as comunidades.Ela reconhece e trabalha o poder ali pelo lado cheio do copo. Numa visão aí transformista da comunidade, da realidade. 

Cléber, Deixa eu te perguntar, dez meses de pesquisa, muitas trocas, muita conexão, muitos achados, muitos desafios que foram compartilhados. 

E agora? 

Como você pretende retornar para essa comunidade, acredito que durante as entrevistas você falou um pouco dos produtos finais, sobre essa sistematização, esse relatório, mas como pretende retornar isso para essas pessoas que forneceram informações.

Como está essa questão da reflexão dessa sistematização do Fundo Brumadinho aí?

 

Cléber:

Já pensando em passar esse conhecimento a frente eu pensei em transformar isso de forma visual e tátil também. 

Então, cartilhas, e-books, a gente está numa era tecnológica muito grande, onde essas coisas são de forma virtual e também pretendo que todas sejam de forma virtual.

Mas eu acho que em alguns espaços é necessário pegar, é necessário manusear, então vai ser necessário em algum momento imprimir esse material que será desenvolvido, a cartilha, o ebook.

Foi também desenvolvido um site específico para contar esse passo a passo, onde a gente vai fazer uma trilha de como também a pessoa pode desenvolver fundos comunitários na sua comunidade, então tem pessoas que pode estar pensando isso e vamos dar outras formas de que esses fundos sejam criados em outras comunidades.

Que uma coisa a gente falar de Brumadinho que foi um crime, que traz uma questão de sensibilidade maior da comunidade a fim de doação, e outra coisa é a gente falar de outras comunidades que não sofreram crime, apesar de sofrerem crimes constantemente como a falta do poder público naquele local, saneamento básico, saúde, educação, cultura, etc. 

Mas eu acredito que esse site, ele vai dar trilhas onde a pessoa vai conseguir pelo menos se inspirar a criar isso na sua comunidade.

E claro eu pretendo devolver isso para minha comunidade específica aqui em Santa Luzia desenvolvendo um fundo comunitário que atenda a comunidade da ocupação Nova Esperança.

Acho que vai ser bem bacana casar isso tudo. O produto final com tudo isso que a gente quer fazer. 

 

Mariana:

Eu estou ansiosa para ver essa pesquisa sair do forno e principalmente ansiosa para os novos debates que vão surgir com base nela, com novas estratégias, novos avanços que irão surgir com base nela. 

Pode ter certeza que será um presente para toda a comunidade, para todo o Brasil, afinal esse foi um caso de âmbito internacional. A gente viu isso! 

E espero que nos inspire mesmo a criar mais fundos comunitários, mais metodologias de trabalho e de mobilização comunitária.

Muito bom te ouvir, a gente está indo para os minutinhos finais e eu queria te fazer uma pergunta: Como você está saindo daqui?

Pra quem está nos ouvindo, como que você vem, qual o teu sentimento diante de tudo isso que a gente conversou agora de uma forma com valor afro civilizatório, que é a oralidade, então é muito bom no podcast que a gente consegue trazer elementos intrínsecos, subjetivos, simbólicos que permeiam a nossa pesquisa. 

Eu queria que tu fizesse aí uma uma palavra final pra quem tá nos ouvindo, o teu sentimento.

 

Cléber

Obrigado Mari, eu estou saindo muito bem dessa conversa, estou saindo com o sentimento de que é possível replicar isso de forma poderosa dentro da comunidade, dentro de qualquer comunidade.

Independente do que aconteça, se seja um crime onde tenha visibilidade nacional e internacional, ou se é uma comunidade onde o crime como eu disse acontece diariamente pelas faltas dos poderes que deveriam estruturar aquelas comunidades.

Mas enfim, eu estou então saindo com esse sentimento de que é possível sim. De que é possível passar esse conhecimento do que é o fundo regenerativo em Brumadinho para qualquer outra comunidade, de forma pedagógica, de forma simples. 

Nós estamos falando de algo importante mas precisa ser replicado de forma simples, as pessoas precisam ler aquilo e ouvir, fazer conexões nas suas cabeças e falar: “olha, mas eu já pratico essa filantropia, aqui no meu terreiro a gente faz”. 

A gente que vem de famílias onde moram em terreiros, onde tem outras pessoas, morando junto ou da família, tios e tal e já fazem muito isso.

Já partilham o seu alimento, já partilham às vezes as suas roupas, os seus trabalhos, porque filantropia a gente não está falando especificamente em dinheiro, a gente está falando de todas as outras formas de ajuda mútua que existem no universo e são criadas e co-criadas essas formas de ajuda todos os dias. 

Então eu estou saindo muito bem. Estou bem ansioso para entregar isso, ainda tem muita coisa acontecendo, ainda tem muito para poder fazer dessa pesquisa. Mas eu acredito que vai dar tempo de entregar tudo que a gente planejou, tudo que eu planejei e estruturei na minha cabeça de devolver a comunidade eu acho que vai sair. 

Tem que ser um ganha ganha né? 

Tem que ganhar a comunidade, tem que ganhar a comunidade de Brumadinho tem que ganhar o bolsista, as pessoas, as instituições por trás desse fundo, as outras localidades, os outros territórios a quem a Nossa Cidade abraça. 

Bom, estou animado, muito obrigado!

 

Mariana:

Obrigada você Cléber!

Pessoal, até o próximo episódio. 

 

Cléber

Tchau!

 

Encerramento:

Esse foi o quarto episódio da Temporada Saberes do Podcast Comuá, Filantropia que Transforma. 

O Programa Saberes fomenta a produção de conhecimento e sistematiza práticas da filantropia comunitária e de justiça socioambiental, demonstrando sua potência para fomentar a transformação social.

O Podcast Comuá, é uma realização da Rede Comuá.  

Roteiro, produção e captação da equipe executiva da Rede Comuá. 

Edição do estúdio Ybori. 

Disponível nos principais agregadores de podcasts e no site redecomua.org.br

Até o próximo episódio!

 

Host: Mariana Assis

Entrevistado: Cléber Rodrigues

 

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