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Desafios da filantropia para tornar-se mais transformadora

Desafios da filantropia para tornar-se mais transformadora

Foto: Andre Will / Adobe Stock

Por: Roberto Vilela

Em outubro deste ano, a Rede Comuá participou do Wings Fórum em Nairóbi, no Quênia, um evento trienal que reúne redes de filantropia de todo mundo para refletir como aprimorar e tornar a filantropia mais transformadora. O evento contou com participação de uma grande diversidade de atores desse campo, desde a filantropia corporativa até a filantropia de base comunitária, organizações de âmbito internacional, regional e local.

A Rede Comuá e alguns de seus membros (Fundo Elas e Baobá) contribuíram para as reflexões do Fórum por meio da proposição da sessão “Filantropia Transformadora: fortalecendo a sociedade civil quando os direitos humanos estão sob ataques”.

Dentre os pontos destacados no Wings Fórum como desafios para o desenvolvimento da filantropia, a partir das discussões ocorridas durante o encontro, está como tornar mais flexível o acesso a recursos filantrópicos, com menos amarras e regras de uso, e com valorização do apoio ao fortalecimento institucional das organizações de base, a partir da pressuposto que é fundamental investir nas áreas de suporte das organizações e não apenas em suas atividades finalísticas, uma vez que são as atividades meio que permitem por exemplo avaliar melhor os impactos, sistematizar experiências para poder disseminá-las, melhorar a qualificação dos colaboradores para alcançar resultados mais perenes. 

O tempo de duração do apoio filantrópico foi outro um aspecto trazido ao debate, uma vez que os processos sociais e ambientais bem como as transformações institucionais e os resultados ocorrem num prazo superior a um ano. A lógica dos apoios de curto prazo geram incertezas de continuidade que se replicam por toda cadeia de apoio da filantropia, desde as fontes de recursos até a ação na base.

Outro aspecto mencionado é a urgência em construir uma filantropia mais horizontal – menos hierárquica, e mais diversa, incorporando as dimensões de raça e de gênero como questões estruturantes. Txai Suruí, líder do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, disse no painel

“desafios existenciais e futuros compartilhados: redescobrindo o papel da filantropia”: “queremos ajudar vocês a ouvirem a floresta”.

Segundo a jovem, seu povo sabe cuidar da floresta há milhares de anos a partir de uma escuta que a sociedade atual não é capaz de fazer. Rena Kawasaki, diretora da Earth Guardians Japan, destacou no mesmo painel a importância das organizações incorporarem jovens nos espaços de decisão.

Outro ponto destacado é a necessidade de que a filantropia esteja mais disposta a correr riscos, para poder alcançar melhores resultados. Essa lógica, presente no mundo econômico, onde quem arrisca mais também pode colher resultados mais transformadores, vale para o mundo filantrópico. É preciso aumentar o número de atores dispostos a correr o risco de apoiar ideias disruptivas e inovadoras para que a filantropia se torne mais transformadora.


Roberto Vilela é formado em administração de empresas pela USP (2001) e mestre em administração pública pela FGV-SP (2007), apoiou como consultor organizações públicas e privadas para planejamentos estratégicos. Foi professor de escolas de governo sobre diversos assuntos da gestão pública tais como modelo organizacional, elaboração de projetos e indicadores de monitoramento e avaliação de políticas públicas. É especialista em microcrédito e microfinanças e consultor de governos municipais, OSCs e bancos para criação e desenvolvimento de organizações e programas. Atualmente é diretor executivo da Tabôa Fortalecimento Comunitário desde 2016.

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