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Movimentos sociais em tempos de pandemia: chegou o momento da filantropia

A pandemia global de Corona vírus pode ser a maior crise que viveremos. A situação atual tem o potencial de não apenas romper com o status quo, mas também de mudar para sempre nossos sistemas sociais, econômicos e políticos.  Esse cenário exige que grandes planos sejam suspensos, que foquemos em estar presentes e pensemos em fazer aquilo que parece certo neste preciso momento. Como editoras convidadas da edição de Junho 2020 da Alliance’s sobre a relação entre a filantropia e os movimentos sociais, não pudemos deixar de nos perguntar sobre o financiamento e formas de organização em tempo de distanciamento social.

No setor sem fins lucrativos, à medida que as interações em pessoa diminuem cada vez mais, os espaços virtuais vem se expandindo para compensar e oferecer novas formas de criar dinâmicas coletivas. Algumas questões, como as crescentes emissões de gás carbônico e a poluição na atmosfera, parecem ter tido alguma melhora ao passo que a economia desacelerou e a demanda por viagens foi interrompida. Outras questões, como as ameaças aos direitos civis, potencialmente tem a sua situação prejudicada, uma vez que alguns governos recorrem à medidas autoritárias – como o grampeamento e vigilância telefônicos – para enfrentar a crise. Por sua vez, as populações mais pobres e vulneráveis tendem a ser mais afetadas ainda pela desigualdade e pelos efeitos da crise, que, por seu lado, tende a aumentar ainda mais os abismos da desigualdade em si mesma.

Neste momento, movimentos sociais e mecanismos de organização comunitária são mais importantes do que nunca. Em lugares onde os sistemas social e de saúde desmoronam, os sistemas de ajuda mútua estão sendo estabelecidos e precisam reagir rapidamente. Em alguns lugares, os/as ativistas estão mobilizando suas redes e comunidades para garantir que as oportunidades decorrentes desse momento histórico não sejam esquecidas e que demandas anteriores (como por exemplo, a renda básica universal) e práticas (agricultura familiar e comunitária) sejam traduzidas para se ajustarem à situação atual (renda básica de emergência pandêmica, expansão maciça das cadeias de suprimentos locais). Em outros espaços, os sistemas de organização local estão unindo esforços para tentar apoiar as populações vulneráveis através de uma aproximação com as populações que não possuem os recursos e redes de apoio que nós, que somos privilegiados, temos, e através do desempenho de papéis cruciais de solidariedade neste momento dominado pelo medo.

Existe uma janela de oportunidade para que fundações e proprietários de grandes riquezas sejam catalisadores que ajudem a construir um futuro capaz de aproveitar este momento para enfrentar alguns dos problemas ambientais e sociais que, até algumas semanas atrás, pareciam tão impossíveis de enfrentar à nível sistêmico. O Coronavírus pode ter sacudido o sistema geral suficientemente para permitir que isso aconteça. Assim, ao invés de interromper as operações para “voltar ao normal depois que a crise passar”, as fundações devem perceber, agora, que essa crise não passará apenas com várias semanas de distanciamento social. Realmente, existem vários indícios positivos por parte de algumas Fundações sobre mudanças em suas práticas, mas precisamos que isso seja uma tendência geral a longo prazo.

Pesquisadores já preveem vários meses de situações emergenciais com repetidas ascensões e quedas nas curvas de taxa de infecção, além de longas restrições aplicadas à viagens internacionais a depender das novas curvas e suas relações com os efeitos econômicos e sociais associados à elas. Nesse cenário, se as fundações e grandes doadores esperarem que seus portfólios de investimentos gerem novamente retorno para que este seja usado nos planos estabelecidos pré-crise, o caminho de ação escolhido não será o correto.

Este é um apelo às fundações para que usem sua posição privilegiada de quem não é severamente afetado pela atual crise: esqueça sua estratégia de longo prazo, esteja no presente, olhe em volta e gaste seu capital social para apoiar a variedade de ações civis e comunitárias que estão acontecendo. Seja flexível com seus parceiros donatários existentes cujas atividades serão severamente afetadas, mas que precisam ainda mais do seu trabalho no momento atual. Este também é o momento de conceder novas doações irrestritas aos seus parceiros de confiança, de forma a apoiá-los para que possam enfrentar a situação junto com suas comunidades da melhor forma possível para eles.  Pense em como apoiar ativistas/grupos comunitários e outras pessoas que estão fazendo um trabalho importante em lugares em que os mais vulneráveis e marginalizados serão ainda mais atingidos. Entre em contato com os movimentos – muitos já têm sistemas intrincados de divulgação para suas comunidades e públicos – para ver como você pode ajudar/apoiar os esforços que eles estão fazendo diante desta pandemia.

Mas não pare de fornecer apoios emergenciais. Procure grupos e ativistas que estão trabalhando para transformar a crise em um motor de mudanças positivas, que já estão construindo comunidades online ou de outros tipos, micro-solidariedade e grupos de ajuda mútua, aqueles indivíduos e grupos que estão moldando o discurso para que todos usemos esta situação como uma oportunidade para reavaliar quem somos e o que realmente importa.

Autoras: Romy Krämer, Graciela Hopstein e Halima Mahomed editoras convidadas da edição de junho de 2020 da Alliance sobre movimentos sociais e filantropia.

Texto publicado em 26 de março no site da Revista Alliance https://www.alliancemagazine.org/blog/social-movements-in-times-of-pandemic-the-moment-for-philanthropy-has-arrived/

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